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À DERIVA NO ASFALTO

No ano seguinte ao memorável e inesquecível quadro de vidro, mais uma missão daquelas para mais um desfile de sete […]
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No ano seguinte ao memorável e inesquecível quadro de vidro, mais uma missão daquelas para mais um desfile de sete de setembro. E essa foi bem cheia de contratempos. O desfile mais cheio deles que já fiz na história, embora tenha feito o possível para que tudo desse certo, mas aconteceu de tudo.

Menos de uma semana antes, havia acabado a Olimpíada de 2004, que aconteceu em Atenas. O Brasil havia conquistado quatro medalhas de ouro* nessa importante competição esportiva. A sugestão era representar vários esportes, inclusive aqueles em que o Brasil havia conquistado medalhas.

Mas ninguém na escola havia pensado no iatismo, que rendeu ao Brasil várias medalhas. E veio a ideia: fazer um barco a vela. Parecido com aquele com que Robert Scheidt havia conquistado a primeira medalha de ouro daquela olimpíada. Solicitei isopor, papéis, cola, tinta, pincel, etc, etc, etc. E ainda tinha gente que duvidava da ideia. Mas eis que cheguei com o barco que havia prometido à direção da escola.

Era um barco bem pesado de 0,90 metro de comprimento por 0,85 de altura e 0,50 de altura. Eis a ilustração do barco tal como ele era, baseada na única foto que tenho desse desfile. Uma obra-prima de isopor e cartolina:

O barquinho era de isopor, mas navegava de verdade no asfalto.

O barco foi baseado nas imagens que via na TV de barcos da classe Star, da qual o iatista Robert Scheidt havia conquistado a medalha. Mas na mesma Olimpíada Torben Grael e Marcelo Ferreira ganharam também uma medalha de ouro, na classe Laser, se não me engano. Então, conforme a ilustração, coloquei os sobrenomes dos três na vela do barco: Scheidt, Grael, Ferreira.

O barco foi montado em casa. E carregar o barco até lá já seria um desafio, visto o vento que fazia. O barco só não chegou à escola desmontado porque no meio do caminho uma motorista de um Fiesta ano 96 sensibilizada com a cena me ofereceu carona até a escola.

Aí chegou o dia do desfile. E eu senti a sensação de como é um velejador conduzindo o seu barco em mar revolto. Ele chegou até a concentração do desfile quase desmontando, quando de repente deu um golpe de vento e a vela do barco desmoronou. Tive de arrumar um pedaço de cabo de vassoura numa marcenaria que tinha na rua da concentração. Mas o barco já estava quase desmontando, a vela caindo, navegar era um desafio. E lá vinha eu marchando com aquela alegoria desmontando literalmente.

E a cada ponto eram um ou dois rindo de mim. Era a vela da alegoria caindo na minha cabeça, indo completamente desgovernado. Era para eu levar o barco, mas o barco me levava. Um dos espectadores do desfile falou ao me ver: “Coitado desse menino com aquele barco se desmontando”. Mas a minha irmã mais velha, que ouviu, disse: “Quem tá desfilando com o barco se desmontando… É o meu irmão”.

A minha mãe fazia de segurança, e invadiu a pista (que ao contrário do desfile do Centro não tem cordão de isolamento) para afastar uma pessoa que ficava gritando para mim.

No fim do desfile, o barco desmoronou completamente. Só voltou com a base. A vela do barco, que era de cartolina, ficou no caminho. Essa ponta da direita da ilustração se quebrou. Nem para prancha de windsurf aquela base servia. Teve quem disse que aquele barco era para ser carregado por duas pessoas, e não só por uma. Eu pensei justamente isso, que aquele barco era para ser carregado por outras pessoas como foi o quadro de vidro do ano anterior. Só soube que era eu sozinho quem iria “navegar” com o barco na hora do posicionamento do desfile, já na concentração.

Mas foi inesquecível assim mesmo, e no ano seguinte passei do mar revolto para a história, que acho que já contei antes ainda na época em que o blog ainda se chamava Diário do Josi, mas como o momento é propício, vou relembrar em uma próxima postagem. Foi a histórica Maquete da Lagoa, onde fui até ovacionado pelo público.

Realmente, não deve ser fácil navegar no mar. Navegar no asfalto da Av. 2 de Fevereiro em um desfile de sete de setembro já não é fácil…

*Um ano depois, o Brasil ganhou mais uma medalha de ouro, já que o cavaleiro Rodrigo Pessoa herdou a medalha no hipismo, reconhecida após o cavalo do ucraniano Cian O´Connor, que havia ganho o ouro, ser flagrado no exame antidoping. Com isso, foram cinco as medalhas de ouro conquistadas pelo Brasil na Olimpíada de 2004.


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