Durante a realização do maior evento religioso do estado da Paraíba, o bairro da Penha, em João Pessoa, recebe aproximadamente entre 120 até 200 mil pessoas na realização da Romaria em homenagem a Nossa Senhora da Penha. O maior movimento que o bairro recebe todos os anos e que é famoso em nível estadual por isto. Logo a Penha tornou-se um destino do turismo religioso, que fica ao redor de áreas de turismo recreativo e de negócios (este em fase de início), como a Estação Ciência e o Centro de Convenções. Mas algo parece não avançar num local promissor como este. E esse problema está justamente em como as pessoas se deslocam; seja indo ou vindo.
Bairro residencial, e onde também gira um comércio de serviços (bares, restaurantes e outros comércios de beira da praia, área essa última mais concentrada na Praia do Seixas), um dos maiores problemas da Penha é a mobilidade urbana, tanto para quem lá mora quanto para quem lá vai. Ela não está acompanhando o movimento de valorização e ocupação dos locais que se desenvolveram ao redor do bairro. Um dos poucos avanços que se pode citar da área onde está, inclusive, o ponto mais oriental das Américas, foi a transferência de terminal do 507 para a Estação Ciência tão logo ele foi inaugurado. Porém, dos 14 ônibus da linha 507-Cabo Branco, só um avança até a Penha.
E ainda temos o caso 2307-3207. A linha mesmo com todo o crescimento de demanda permanece imutável. E nem adaptado tem. Somado ao fato de que o carro do 507 que sobe até a Penha não é adaptado, a Penha um dos poucos da cidade que não dispõe de transporte adaptado para portadores de necessidades especiais. E nenhum dos carros que lá roda tem o mínimo de requisitos de acessibilidade (eles vão muito além de um elevador).
E é isso, e muito mais, que veremos agora em mais uma matéria especial do Blog Josivandro Avelar.
O bairro
A Penha já não é mais a comunidade distante de outrora. Fica ao lado do Cabo Branco, a menos de dois quilômetros da Estação Ciência. O que atrai a demanda do 207 (ou 2307/3207) em finais de semana e feriados são as praias da Penha e Seixas. Aliás, essas linhas passam justamente no ponto geográfico conhecido como o extremo oriental das Américas.
Todos os anos acontece no bairro (aliás, no bairro não, na cidade mesmo, e termina no bairro) um dos maiores se não o maior evento religioso do estado, a Romaria de Nossa Senhora da Penha, que vai do cruzamento da João Machado com a Trincheiras até o Santuário da Penha, num percurso de 14 quilômetros que os fiéis fazem na madrugada do último domingo do mês de novembro.
Há mais de 200 anos no último domingo de novembro, romeiros de todo o estado se dirigem a João Pessoa para participar da romaria. Dezenas de milhares de pessoas caminham 14Km da Igreja de Lourdes, no Centro, até o Santuário da Penha, já na orla marítima da capital.
Foi ao redor do Santuário, fundado em 1763, que o bairro da Penha se desenvolveu. Inicialmente como uma vila de pescadores. Muito dessa história ainda pode ser encontrada lá. Trata-se de uma das primeiras áreas do litoral ocupadas efetivamente em João Pessoa, que nasceu às margens do Sanhauá. Os primeiros registros de ocupação das outras praias datam de bem mais tarde.
Conexão com o resto da cidade
A própria romaria quando começou a ser realizada praticamente abriu caminho para que a Penha se conectasse com o restante da cidade. Porém só no final dos anos 1980 é que a via que interliga o bairro à Zona Sul foi asfaltada (é a Avenida Hilton Souto Maior).
Neste registro da época, pode se ver um carro da então empresa Nossa Senhora das Neves, que operava a linha Penha/Rangel, passando pela então rua enlameada.
Essa linha, junto com a 508 da também antiga Marcos da Silva, possuíam cada uma um carro. Já chegou até a existir uma linha Penha/Pedro II, que tão breve rodou, breve saiu.
Desde 2004 rodando como linha de domingos e feriados, o 207 (código da linha Penha/Rangel) tem uma certa fama dentro da cidade. Além de concentrar na maioria das vezes os veículos mais antigos da empresa que a opera, não faltam histórias de quem a usa.
A linha Penha-Rangel foi transformada em circular no ano anterior, 2003 (a pretexto do quê não se sabe, pois o problema “demora” não foi solucionado). Operam hoje como 2307 e 3207, com dois veículos cada uma num ciclo de 50 minutos de um a outro. Um tempo de espera homérico, diga-se de passagem.
A oferta de transporte público na Penha
Por conta disso, a oferta de transporte no bairro cresce em média 20 a 30 vezes para levar as pessoas de volta para os bairros. Num domingo normal, a oferta de transporte do bairro é de, em média, 10 veículos nas linhas que operam lá (207, 2307, 3207, 507A, P008 e I007).
Em dias úteis, a oferta é de sete veículos em quatro linhas (2307, 3207, I007 e 507A). Ou seja, é um local onde a mobilidade urbana é bem complicada, e a infraestrutura do bairro (nas ruas onde trafegam os ônibus) é boa. Ou seja, nada justifica que o transporte público do bairro seja tão deficiente.
E se não fosse a mobilidade urbana do bairro ser ineficiente, ela ainda é inacessível a quem tem limitação de movimentos. Nenhum dos veículos que rodam nas linhas é adaptado (nem com elevador, nem com poltronas sinalizadas ou anteparos com relevo, a bem dizer, sem o mínimo de dispositivos de acessibilidade possíveis). Ou seja, se um cadeirante, por exemplo, quiser ir para o bairro, não terá condições de fazer isso de ônibus.
Circulares da Penha: solução paliativa
As linhas 2307 e 3207 substituíram a 207 em março de 2003. Ao invés de dois veículos como era até esse ano, as linhas passaram a operar com dois carros cada, sendo que dois saem da Penha sentido Pedro II voltando pela 2 de Fevereiro, e os outros dois saem do bairro fazendo o itinerário oposto. A medida trouxe uma maior oferta de itinerário para os moradores do bairro, visto que agora podem ter acesso aos Bancários e a UFPB.
Como todas as medidas das autoridades de transporte da cidade, a solução foi tomada de uma forma paliativa. O tempo de espera entre um carro e outro da linha (que são apenas dois em cada) continuou sendo de 50 minutos a até mais de uma hora. O que para quem tem compromissos marcados e dependa da linha, não tem paciência que aguente.
De 10 anos para cá a população do bairro pode ter aumentado, a da cidade também, e os carros continuam sendo dois para cada linha. Como citado anteriormente, nenhum deles adaptado; sempre são alguns dos mais antigos que a empresa tem. Só o mais velho dos quatro veículos tem oito anos de uso; geralmente, um carro fixo de uma linha não costuma passar dos cinco, seis anos de idade, e depois vai para a reserva operacional.
Como sozinha a linha não dava conta do dia de maior demanda, o domingo, as linhas recebem o reforço do 207 (voltou para isso, rodar nos domingos e feriados), além de ser reduzida em um carro em cada linha (já que o corredor 2 tem mais demanda que o 3 neste dia).
Destinos difíceis
Os carros para a Epitácio Pessoa, que antes eram três, caíram para um, que nada mais é que um “puxadinho” da linha 507-Cabo Branco. A Penha já teve uma linha direta para a Epitácio (508), mas ela foi extinta.
A linha dispõe de nove adaptados, mas o carro fixo que vai até a Penha não tem acessibilidade. E ainda é difícil para o morador conseguir identificar o 507 que vai para a Penha se não for por uma discreta placa no vidro do ônibus.
E quem não quiser esperar por ele, tem que esperar por um dos dois ônibus da linha I007, uma linha alimentadora que vai da Penha até o terminal da linha 507. De lá usa o veículo da última sem pagar uma segunda passagem. Os microônibus, que são dois, parte em média de meia em meia hora.
As linhas não conseguem acompanhar a demanda de crescimento
E o nosso foco é justamente aqui, no 2307-3207. A linha está trafegando numa área que está gradualmente se valorizando. Estão em construção obras como o Mangabeira Shopping e a Escola Técnica Estadual. A demanda das linhas explodiu dada a atração da mão-de-obra que constrói não só essas obras, mas prédios residenciais ao redor atraídos pelas mesmas. Não é para menos que o metro quadrado daquela área do bairro aumentou de preço. Se há dez anos atrás ninguém movimentava a Hilton Souto Maior, o mesmo não se pode dizer agora. Uma hora os pedreiros vão dar lugar a estudantes, funcionários públicos, professores e comerciantes, além de moradores e quem for visitar o Shopping. E essa demanda não partirá só do bairro de Mangabeira.
Bem, um tempo atrás usando a linha 2307 só do Rangel para a Integração, pude constatar isso. 6:20 da manhã, a linha já tem enchido. Os registros fiz mês passado.
Apesar do crescimento visível e notável da demanda, as duas linhas continuam com a mesma estrutura de dez anos atrás: dois carros cada linha.
Ou seja, alguém esqueceu de ver isto.
Para ajudar a amenizar
Começa logo pelo aumento de um ou dois carros em cada uma dessas duas linhas: dois é muito pouco para o itinerário e pela demanda. Ao visto, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana quer deixar tudo em cima da hora ao invés de antecipar-se à explosão de demanda que as novas obras da Hilton Souto Maior deixarão quando estiverem prontas. Apesar de na Hilton Souto Maior trafegarem linhas do Cidade Verde, o 2307 e o 3207 são o único acesso do Rangel à essa rua; o 209, que poderia ajudar, trafega na Josefa Taveira, rota onde já passa o 203 (é só mais um capítulo da má distribuição das linhas de Mangabeira que trafegam no Rangel, onde pode-se ver linhas que trafegam absolutamente nos mesmos locais trafegando pelas mesmas ruas).
Isso também pode-se aplicar ao próprio bairro da Penha, que deve acompanhar esse crescimento. E mais: de ônibus, mal se chega ao recém-inaugurado Centro de Convenções. Você tem que ficar na dependência de uma linha integracional da Marcos da Silva, se é que passa lá.
A área precisa ser melhor acompanhada pelos órgãos de mobilidade. A demanda turística, residencial e de mercado inevitavelmente vai migrar para esse local. Melhor prevenir-se de transtornos logo do que solucionar tudo em cima da hora. Se sabe que um local vai atrair gente, é preciso soluções de como posso realizar o deslocamento de toda essa gente.
Assim seria melhor que a única romaria que os moradores da Penha acompanhassem seja a que é realizada hoje, e não a romaria diária para esperar um ônibus.