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NINGUÉM CONSEGUE SE MOVER

Sábado, 4 de junho, presenciei um congestionamento considerável na 2 de Fevereiro, bairro do Rangel. Já não é mais a […]
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Engarrafamento em um ponto da cidade de João Pessoa. Sábado, 4 de junho, presenciei um congestionamento considerável na 2 de Fevereiro, bairro do Rangel. Já não é mais a mesma rua de 23 anos atrás, quando nasci. E olha que conheço o bairro desde esse tempo, pois moro aqui desde que nasci.

Qualquer caminhão que para descarregando mercadorias na feira do bairro já provoca problemas sérios no trânsito da rua. Ela já é estreita e não tem como alargar. A não ser que você tenha que passar por outras vias. Aí seria fácil dizer “falta um pouquinho da ‘cultura da opção’ nos motoristas de procurar alternativas para a sua mobilidade”, certo? Mas como se ninguém consegue se mover nesta cidade?

É só ver o que costumo ver todo dia no caminho da faculdade. Vias carregadas. Epitácio, Pedro II, Retão de Manaíra, Mangabeira, são alguns exemplos de pontos movimentados onde a cada dia fica difícil se movimentar de carro. E isso, claro, reflete no sistema de transporte coletivo, isso vamos falar depois num outro post.

Para se ter uma ideia, tenho de sair bem cedo para poder chegar à faculdade o quanto menos atrasado melhor. E posso dizer que minha estratégia técnica dá certo: consigo chegar de 7:20 da manhã, 10 minutos antes do início da aula. Mas, tem um detalhe: os professores da faculdade chegam bem mais atrasados, 7:35, 7:40. Não por culpa deles mesmos. É o trânsito que os impede de cumprir os compromissos na hora que gostariam. E não são só eles que tem problemas com o trânsito. É com todo mundo.

Nos corredores da cidade, qualquer coisa é motivo de congestionamento. Até mesmo pequenos acidentes sem maiores avarias com os carros. Até se alguém cair de uma bicicleta hoje em dia já é motivo para o trânsito parar. E ficar congestionado por um bom tempo.

Cada vez mais cresce o número de automóveis de todos os tipos e todos os tamanhos na cidade. Comprar um carro é mais fácil hoje em dia do que há 20 anos atrás; compra-se como se compra uma televisão para sua casa. E já posso citar aqui o exemplo do próprio aparelho de TV: antes você não tinha uma televisão para a sua sala, e pôde comprar um. E agora com as facilidades do crédito você já tem condições de comprar outra televisão para o quarto, por exemplo. A mesma coisa é com o carro: há 20 anos atrás, eram poucas as opções e as montadoras no mercado brasileiro. Hoje, 2011, você encontra vários tipos de carros de todos os gostos e montadoras.

Mas o poder público não correspondeu a esse progresso adquirido pela população. Não tem espaço para todo mundo! Ora, João Pessoa, conhecida como uma cidade com clima de interior, logo começou a sentir os sintomas de ser uma metrópole. Você já não consegue mais cumprir os compromissos no horário que combinou. Paciência.

Há 20 anos atrás, muitos autores de ficção científica previam como seriam as cidades do ano 2000. Prédios futuristas, carros flutuantes, que voam como aviões. Prédios futuristas até podem ser possíveis, mas carros flutuantes… Quem dera.

Hoje a cidade paga por uma evolução sem planejamento. Já pensam como tentar solucionar esse problema, mesmo que a evolução da infraestrutura chegue um pouco atrasada em relação a essa evolução da população, que cresce. João Pessoa já está chegando a 1 milhão de habitantes. O mundo, em sete bilhões.

E enquanto ainda se pensa no que fazer para que o trânsito de João Pessoa seja o menos caótico possível, o consumo cresce aceleradamente. A estrutura da Epitácio Pessoa, por exemplo, é de 20, 30, 70 anos atrás. A atual estrutura da avenida foi pensada para o trânsito de 30 anos atrás. Não se aplica mais ao tráfego de agora.

Esses problemas já são sentidos por quem não usa carro, o que é o meu caso, que sou usuário do sistema de transporte público da capital. Também enfrenta sérios problemas. E nos horários de pico é que isso se torna mais transparente.

Integração em típico horário de pico. Já há determinadas linhas que evito pegar por conta da superlotação. Uma delas, a linha 507-Cabo Branco, composta por 16 ônibus de 12 metros de comprimento e 45 lugares sentados em média, 44 em pé. Não dá pra todo mundo entrar. Geralmente costumo ver veículos dessa linha na Epitácio cheios de gente até na escada. Para uma pessoa descer do ônibus no início da Epitácio, três ou quatro descem para que essa pessoa desembarque, e depois que ela desembarca, elas voltam a escada do coletivo para seguir viagem.

Outra dessas linhas críticas é o 1001-Via Shopping. Não adianta embarcar nesse ônibus no bairro de Jaguaribe. Você não embarca, o motorista não para, e não é por queimar parada. É porque o carro já vem superlotado do Bairro das Indústrias e de Cruz das Armas. Você só consegue embarcar nessa linha depois do Lyceu. É de dia, é de noite: já presenciei ônibus dessa linha enchendo de estudantes da escola por volta de 18 horas, quando terminam as aulas da tarde, turno ao qual estudava no Lyceu. O próprio Bairro das Indústrias tem poucas opções de linhas. É frequente encontrar os carros do 104, linha que liga o bairro ao Centro, lotados, por exemplo.

Mas, se fosse estabelecer o sucesso ou fracasso de uma linha a lotação que ela apresenta em determinados horários, diversas linhas importantes da cidade já teriam sido extintas, e quantos não seriam prejudicados? Vejam o caso do 501-Colinas do Sul: essa linha em horários de pico vem um pouco vazia, mas é importante para o bairro, que gostaria que essa linha simplesmente não atrasasse em seu tempo de viagem.

O próprio caso das linhas circulares é delicado. Muita gente até pode dizer, por exemplo, que o 2300/3200-Circular não são linhas movimentadas, mas esses Circulares são a única ligação do bairro do Rangel com o Valentina. Diferente dos Circulares 1500/5100, que possuem auxiliares (1510/5110 e 1519/5120). Se você está na Epitácio e mora no Valentina e vê um 1500, naturalmente você espera o 1519, uma vez que esse primeiro Circular vai precisar fazer um itinerário em Manaíra e em Mangabeira antes de ir ao Valentina. Vem o 1519 e o que acontece? O carro está superlotado e você não consegue pegar. Tem que esperar muito: ou pegando esse 1500, ou esperando outro 1519.

No caso do 3200, lembro de um dia em que fui fazer um trabalho de campo com minhas colegas da faculdade. Elas iriam pegar o 3200 no Terminal de Integração do Varadouro, e fui também, já que o ônibus passa no meu bairro. Tivemos que pegar o segundo. O primeiro já estava cheio. E no segundo, tive que viajar na escada da porta do meio do ônibus. Sim, no Terminal de Integração do Varadouro você pode pegar 11 opções de carros diferentes para ir até o Rangel, mas não tem jeito, todas saem cheias. Aí você acha que, pegando um 3200, estaria livre da lotação, “ah, os carros vem vagos”. Não encontra. Tem que viajar a pé. E mais: o carro do 3200 o qual peguei tem apenas 38 lugares, e substituiu um carro trucado de 48 lugares.

Lá do lado de fora, a cidade não pára. Para onde foi esse carro de 48 lugares? Para uma outra linha de nome 5204-Cristo/Manaíra Shopping, a qual já até citei numa postagem em 2009. Até o início do ano, rodavam três carros do tipo micrão nessa linha junto com outros três convencionais. O aumento da demanda fez a empresa tirar os três micrões e colocar outros três carros maiores. Mas isso não foi suficiente: a empresa ainda trocou um carro desses por esse ônibus trucado, com 48 lugares. O aumento se deve por essa linha ser a única ligação de parte do bairro do Cristo com a Epitácio Pessoa (os ônibus de Mangabeira não chegam até o ponto do bairro onde o 5204 chega), como também a ligação do bairro inteiro do Cristo e do Rangel com a região da Zona Norte, uma das mais nobres da cidade, e com o crescimento, atrai contigente de trabalho que vem da Zona Oeste.

E voltando aos Circulares, voltamos ao 1500/5100. No ponto onde eu pego a linha 5100, o carro sai vago, três pessoas no mínimo estão lá quando pego esse ônibus. Mas começa a aumentar quando já começa a chegar na Epitácio e na Lagoa. Algumas paradas depois, o carro de três pessoas já se torna um carro consideravelmente lotado. Isso de 11 da manhã, imagine então em horários de pico.

2300 não fica atrás. Se ela não existisse, a linha 301-Mangabeira-Pedro II estaria asfixiada. A empresa já colocou dois articulados nessa linha, além de vários ônibus trucados. Eles saem lotados nos horários de pico. O passageiro, ao ver que não tem espaço no 301, já embarca no 2300 que faz praticamente o mesmo itinerário, mas ainda tem pessoas indo ao Valentina para embarcar. Como também não é raro encontrar ônibus do bairro do Valentina lotados; e olha que juntos Mangabeira e Valentina concentram uma boa parcela da população pessoense. São os dois maiores bairros da cidade.

Ficaria horas enumerando esses problemas, por isso destaquei alguns. Desde algum tempo que estudo fora do bairro onde moro, mais longe, e me desloco todos os dias. Ou melhor, tentando me deslocar de modo a chegar dentro do horário estabelecido. Coisa bem impossível, a menos que você acorde bem cedo ou saia com antecedência, o que eu tive de fazer. Andar na cidade é uma verdadeira aventura, a qual você tem que se preparar muito.

Afinal de contas, a cidade cresceu, e junto com esse crescimento, vieram aqueles velhos conhecidos problemas de cidade grande. E parece que ainda não estamos acostumados a conviver com eles, como também não estamos acostumados a enfrentá-los. E assim segue a vida frenética da cidade.


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