Pare para ver uma rede social de notícias. Ou a da Prefeitura Municipal de João Pessoa mesmo. De todas as publicações, veja aquelas relacionadas ao transporte coletivo. É a mais comentada, a que mais os habitantes de João Pessoa reclamam, a que mais opinam. E no ano que a cidade completa 435 anos de existência, a cidade viveu por causa da pandemia da COVID-19 o extremo de sua relação com o sistema de transporte quando simplesmente não o teve. Foi assim que descobrimos, de certo modo, o quanto ele é importante em nossas vidas, por melhor ou pior que possa ser.
Temos várias prioridades e necessidades; saúde, educação, ação social, infraestrutura… Mas existe uma relação que ah, essa é a mais intensa de todas, e é aquela que parece que amamos odiar, odiamos amar, queremos que mude e que fique do jeito que está ao mesmo tempo. É a nossa relação com o transporte público, aquele que nos liga da cidade onde moramos a cidade que conhecemos.
Lista de desejos do Blog Josivandro Avelar
É aquela que parece que a única integração que existe é a física, e a eletrônica que existe parece uma pegadinha. Que parece ruim só porque não tem o ônibus que gostamos. E é aquela que sofremos quando demora, quando a gente se espremia na lotação, quando encarava a Integração em horário de pico. Mas lembra que eu disse sobre relações que amamos odiar e odiamos amar? Então, pare para pensar que por mais de 100 dias, nunca poderíamos imaginar que sentiríamos falta disso.
Pois de certo modo sentimos falta. Foi quando a pandemia motivou a cidade a ficar sem encarar a Integração, a lotação, os atrasos… O ônibus não iria chegar. E sabíamos que não iria chegar. Naquele momento sentimos falta de andar, de encarar, de reclamar. Muitos entendiam que aquele momento era para nos preservarmos. Outros queriam muito que aquilo tudo voltasse, por mais saudade que tenhamos de… Encarar tudo aquilo.
A história da cidade também é contada no Blog Josivandro Avelar
A gente quer sempre uma ligação nova, um meio mais rápido de chegar até nossa casa. Ao mesmo tempo, a gente não quer, quer que tudo fique como está. Como encarar nossa relação bipolar com o sistema… E foi assim que nos reencontramos com os ônibus, quando eles voltaram de uma maneira completamente diferente daquela que deixamos lá atrás, antes do coronavírus tomar nossas rotinas de assalto. Algumas linhas que conhecíamos não passam nos mesmos lugares. Outras continuam sem circular. Se não fossem tão necessárias, ninguém sentiria falta. Mas entenderam que precisávamos por enquanto mudar.
A lotação já não é mais a mesma. O distanciamento nos obriga a nos manter distantes uns dos outros, a menos que estejamos sentados. Será que sentimos saudades? Ou nos acostumaremos com o novo normal? Qual é a mudança que procuramos? E o que realmente queremos do nosso sistema de transportes?
Ah… Se ele não fosse tão presente em nossas vidas, talvez este como tantos outros projetos não existiriam. A maior razão disso tudo é justamente porque nos acostumamos a sermos movidos por esses veículos tão presentes em nossas vidas. De certo modo, eles ajudam a construir e a contar as histórias da cidade.
Então, nesses 100 dias em que eles não estavam nas ruas, confesse: você deve ter sentido falta, mesmo que o serviço não seja satisfatório. E eu te entendo.
Porque se existe uma coisa que a cidade não consegue viver sem, é sem os seus ônibus. É quem nos liga a cidade que construímos, moramos, convivemos. A uma João Pessoa de várias faces e lugares. Por isso nossa relação sempre será assim; bipolar. Podemos achar péssimo, mas no fundo, lá no fundo… Aprendemos a conviver porque de certo modo, nós amamos.