Um visual com propósito

A alma de um projeto de comunicação visual está na aliança entre o conteúdo que ele transmite e o visual com o qual esse conteúdo é apresentado. E como eu disse em uma ocasião anterior, nenhum projeto é igual ao outro, mesmo que tenham uma estrutura parecida, variando nas necessidades de cada trabalho. Costumo usar um padrão de construção, mas sempre personalizo cada projeto para evitar que fiquem parecidos uns com os outros. Cada trabalho é diferente, apesar de atender vários nichos parecidos, como transporte, jornalismo regional e outras áreas que podem até se parecer, mas que têm um estilo em cada um que os diferencia.

Em algumas situações, posso fazer mudanças mais profundas ainda em termos visuais. Os clientes pedem alterações mais elaboradas, como adaptação de cabeçalho, organização de elementos, entre outros itens que ajudam a identificar o projeto em relação aos concorrentes. A paleta de cores também importa, mas quero antecipar que esse assunto é para outra pergunta. O que importa é que o projeto reflita a personalidade de quem solicitou, como ele quer que o trabalho seja percebido pelo público. E é essa personalidade que precisa ficar cada vez mais latente. O público reconhece de cara o projeto e consegue diferenciar em termos visuais e conceituais.

O cliente também pode enviar a sua marca, mas se quiser, eu posso criar, visto que também desenvolvo identidades visuais. Mas se tem uma coisa que valorizo são as identidades criadas por outros designers, justamente porque gosto de entender melhor os projetos de cada um e como querem que sejam executados. É para isso que o manual de marca é essencial, e quem sabe das coisas interpreta muito bem como manejar uma marca. Procuro preservar ao máximo a essência visual existente e sempre faço adaptações dentro dos meus projetos para que essa identidade que eu quero transmitir seja melhor refletida.

Nada disso é possível sem que o cliente alimente o projeto com conteúdo. Sim, conteúdo é alma, conteúdo é alimento, e se existe o conceito de alimento da alma, o conteúdo é exatamente isso: é o que faz o projeto viver por muito tempo. Estava até revisitando trabalhos antigos que desenvolvi e me lembrando que algumas coisas se tornaram realidade, no melhor estilo “eu não disse que seria assim lá atrás? Pois então assim é”. Preserve esses conteúdos e referências como um acervo histórico que poucos tiveram a oportunidade de construir. Porque é exatamente isso que você faz todos os dias: documentar, comunicar, levar luz a assuntos que quase ninguém consegue encontrar.

Criar um visual com propósito é justamente traduzir o que o cliente, o responsável pelo projeto, quer passar para o seu público. Eu mesmo sei fazer isso muito bem com a minha própria marca, visto que sou o responsável por meus próprios projetos, e minha vantagem talvez seja justamente entender todo o processo de criação. Que é algo que o cliente não precisa saber, por isso mesmo ele contrata quem tenha essa experiência. É aqui que eu entro, e vou além: entendo o que o cliente quer comunicar, e quero meio que entrar na mente dele para que, ao mesmo tempo, eu entre na mente do público. É uma abordagem meio doida? Sim. Mas é o que faz diferença.