O ano começou nos sistemas de transporte público com mais incertezas do que planos a se fazer, só para não falar que começou sob pressão. A pandemia e a alta dos preços só mostraram o quanto o sistema atual se tornou insustentável, o que faz todos os envolvidos quebrarem a cabeça para tentar salvá-lo. Como manter um sistema sem causa ainda mais prejuízos e até o seu colapso? Certo é que alguém paga a conta.
Um sistema de transporte funciona sob concessão pública, ou seja, o poder público concede a empresas privadas o direito de explorar por um determinado período de tempo linhas e gestão de serviço. Elas conseguem isso via licitação e possuem áreas delimitadas para tal. E sim, nenhuma empresa concorre entre si porque esta não é uma concorrência de varejo igual a um supermercado que fica na frente do outro, onde este baixa o preço das mercadorias para tentar atrair os clientes do concorrente. Esqueça essa lógica em serviço público. Isso não existe.
Graças justamente ao sistema retrógrado que temos, as tarifas de ônibus são praticadas através da leitura de planilhas de custos onde o preço praticado se dá por passageiro, ou seja, quanto menos passageiros usam o serviço, maior é o valor da tarifa e vice-versa. É justamente por isso que as empresas vão preferir colocar ônibus nas linhas que julgam ser mais rentáveis e não no sistema como um todo.
Com a queda de receita, o sistema prova toda a sua insustentabilidade recorrendo ao senso comum de aumento de tarifa baseado nas planilhas que mostram o aumento no preço dos insumos, em especial do óleo diesel. Só que a inflação atinge o passageiro da maneira mais pesada, já que para ele, a conta do supermercado também subiu – lembra da comparação com o supermercado que eu fiz? E isso torna a alternativa de aumento de tarifa uma alternativa suicida.
Aí o poder público entra em cena para tentar arrumar meios de amortecer esses gastos e conter os prejuízos. A Prefeitura de Campina Grande diminuiu o valor de sua tarifa porque passou a bancar gratuidades – que para quem não sabe, nos sistemas da Paraíba são bancadas pelo passageiro – e diluiu o valor de um bônus que era pago a quem recarregava o cartão eletrônico – para cada uma passagem outra era adicionada. Assim, a tarifa que era de R$ 3,90 caiu para R$ 3,75.
Isso de certo modo joga uma pressão em João Pessoa, onde a passagem atualmente custa R$ 4,15 e ainda paga a conta de uma paralisação de 119 dias no auge da pandemia, tornando o desafio maior que o de Campina Grande, que manteve o serviço em condições mínimas naquele momento. Esse desafio ainda tem que conciliar o reajuste e a correção de perdas no salário dos motoristas, que já deram dois sinais de paralisação nessa semana, o último deles hoje de manhã. Até agora a Prefeitura de João Pessoa não só deu sinais claros de como vai lidar com o problema da tarifa – porque já se tornou um problema – como gera ainda mais dúvidas.
A conta por não pensar o futuro do sistema chegou, porque como dizia Renato Russo, o “pra sempre” sempre acaba. E só isso só está acontecendo porque quem faz parte dessa engrenagem, por não acreditar, pagou para ver. O lado mais fraco, bem, esse não tem mais o que pagar. É para onde a corda sempre arrebenta. Como equilibrá-la para que ninguém saia no prejuízo? Nem eu tenho essa fórmula. Quem arrumou o problema, que arrume um jeito de resolver.