Toda cidade tem duas faces. Uma é a que aparece nos cartões-postais, nas matérias de TV e nos perfis turísticos das redes sociais. A outra é a que pulsa nas esquinas, nas ruas sem glamour, nas praças onde o tempo passa devagar. É fácil amar a cidade que todo mundo conhece — aquela dos eventos, dos monumentos e dos lugares que rendem belas fotos. Mas a verdadeira pergunta é: por qual cidade você luta? Pela que todo mundo vê, ou pela que você vive todos os dias?
A cidade onde moramos é mais do que o cenário das nossas rotinas. Ela é o reflexo do que acreditamos, o espaço onde nossas escolhas têm impacto real. Quando lutamos pela cidade, não é só por ruas limpas, transporte eficiente ou praças bem cuidadas. É por pertencimento, por dignidade, por um jeito mais humano de viver em comunidade. A cidade muda quando deixamos de enxergá-la como um serviço que precisa funcionar e passamos a vê-la como um organismo vivo — que sente, respira e reage.
João Pessoa, a cidade que me viu nascer e crescer, é um exemplo vivo dessa convivência entre o visível e o invisível. Entre a cidade cartão-postal e a cidade real, existe uma linha tênue feita de histórias, olhares e lutas silenciosas. Eu vi bairros se transformarem, ruas mudarem de rosto, ônibus se renovarem e modos de viver se reinventarem. Essa observação constante é o que me conecta à cidade — e é também o que move o meu trabalho com arte e comunicação. Porque lutar pela cidade é dar visibilidade ao que não aparece nas vitrines, é transformar cotidiano em narrativa.
A luta por uma cidade melhor começa no olhar. É escolher ver o que muita gente ignora: um muro que pode ser arte, um banco de praça que pode virar encontro, uma calçada que pode ser acessível. É perceber que cada traço de cor, cada voz, cada pequena ação faz parte de uma construção coletiva. A cidade é um espelho — e a forma como a tratamos reflete o tipo de sociedade que queremos ser. Quando lutamos pela cidade real, estamos, na verdade, lutando por nós mesmos.
No fim, a resposta talvez não caiba em uma única frase. Por qual cidade eu luto? Pela cidade que cresce junto comigo, que se transforma sem perder a essência, que dá espaço para o sonho e para a arte. A cidade onde vivo é também a cidade que quero ver florescer, e o meu papel é registrar, inspirar e comunicar. Porque a cidade que todo mundo conhece pode até ser bonita — mas é a cidade que a gente constrói todo dia que realmente importa.