O lugar que me inspira

Se tem uma coisa que você não vai esperar de mim é ser convencional. Por que eu seria? Por que eu teria que repetir o que os outros dizem? Se eu fosse convencional, eu seria só mais um, mas escolher ser você mesmo é um ato de coragem e resistência diante das coisas que tentam empurrar para cima de você. Ser você mesmo é dizer sim e fortalecer o seu não. É sobre o seu estilo, é sobre a sua personalidade, e disso o lugar onde você está, o lugar onde você mora, também faz parte. Será que as coisas que eu faço se inspiram em um lugar em específico? O ambiente onde você está influencia de uma forma considerável a sua criatividade.

Mais ainda, é quando esse é um lugar que você conhece muito bem, porque é o lugar onde você nasceu, e onde você viu a evolução de cada rua, cada casa que teve sua fachada reformada, cada casa que foi demolida para um prédio surgir em seu lugar. Cada rua de barro que foi calçada. Cada rua tranquila que se viu movimentada. Cada ambiente que se transformou com o tempo. Por onde eu passar, posso reconhecer cada passo que eu andei na vida, porque eu conheço cada palmo do chão de onde eu vim. Mas eu vou saber que eu irei encontrar um ambiente bem diferente daquele que eu via há anos atrás, até mesmo meses atrás.

A transformação acontece em um ritmo frenético, e a gente não escapa dela. Porque reflete a nossa vontade de crescer pessoalmente e profissionalmente, e quer colher os frutos do trabalho que a gente desempenha numa melhora no nosso conhecimento, numa melhora no nosso ambiente. E isso reflete na mudança que acontece de dentro para fora nas residências das pessoas. Uma transformação que todo mundo enxerga, mas que muitas vezes parece invisível diante do conceito de cidade cada vez mais restrito ao seu núcleo e cada vez mais excludente a massa que a constrói todos os dias e faz ela acontecer.

A vida nem sempre é colorida como as minhas artes. Mas cada um enxerga a vida de um jeito, e talvez seja essa a graça da vida: a dos modos diferentes de se enxergar e entender cada modo de se enxergar a vida. Nem sempre a gente precisa enxergar a vida com os mesmos olhos das pessoas com quem você convive, com as pessoas que você nem conhece e passam por você. A graça da vida é essa: cada um dá as suas cores, e é essa diversidade de cores que eu encontro por onde eu passo, mesmo que poucas pessoas notem, mesmo que as pessoas não enxerguem do mesmo jeito que eu enxergo. Eu procuro tentar expressar o que eu enxergo nas formas que eu posso fazer. Esse é o meu estilo. E é sobre isso.

Quando eu falo sobre o conceito de construir a cidade, é sobre isso. Somos nós que a fazemos, diretamente de onde a gente está. E são as ruas do lugar onde eu moro que me inspiram, porque são o cenário que eu estou acostumado a ver desde a minha infância. E é louco pensar que esses cenários mudam o tempo todo, mas o traçado permanece sendo aquele. Porque tem coisas que não mudam. Outras até podem mudar de leve. Mas essa é a paisagem que eu tenho em mente por onde quer que eu vá, mesmo que passe um tempo enorme sem sair de casa como tem acontecido nesses últimos dias. Mesmo que o tempo passe, eu sei por onde andar.