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E A PENHA, TRANSNACIONAL?

Entra renovação e sai renovação, são incluídos cerca de 30 carros adaptados por ano na cidade de João Pessoa. Mas […]
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Entra renovação e sai renovação, são incluídos cerca de 30 carros adaptados por ano na cidade de João Pessoa. Mas é incrível como mesmo com o crescimento da frota acessível na cidade, alcançando os 50% de acessibilidade já nesta renovação de 2013, o quanto nada muda na questão da cobertura territorial desses veículos. Em alguns lugares ônibus adaptados passam longe.

keep calm penha

Em tempos de campanhas contra o transporte clandestino, é tempo das empresas refletirem à respeito do que o descaso pode representar para elas. O passageiro cadeirante a que ela pode estar negando serviço por não colocar um veículo adaptado, é o passageiro que pode acabar indo parar num clandestino, muitas vezes pagando por um direito de ir e vir que deveria a ele ser gratuito.

Para ilustrar melhor onde isso acontece, o Blog Josivandro Avelar realiza há tempos balanços de onde rodam os ônibus adaptados e detectou que das 6 empresas de transporte da cidade, só uma dispõe de todas as suas linhas acessíveis: a empresa Mandacaruense, que tem menos de 40 veículos, 16 deles adaptados, e ainda assim conseguiu distribuir essa frota entre todas as suas oito linhas.

Na Marcos da Silva, as linhas I007, 512, 520 e 003 não possuem adaptados, porém o caso mais sério é o do 003. A linha passa por hospitais e instituições de ensino, mas nenhum de seus quatro veículos é adaptado para cadeirantes. A empresa até chegou a colocar um veículo durante o início da alteração de seu itinerário este ano, mas o retirou dias depois. E desde então rodam os mesmos quatro carros de antes.

Na São Jorge, além das integracionais, as linhas 115, 118 e 120 não dispõem desse tipo de veículo. Por conta disso, regiões como Paratibe, Nova Mangabeira, Parque do Sol e adjacências não dispõem de cobertura de veículos adaptados. Quem quiser pegar um desses precisa ir até a principal do Valentina.

As mais próximas de atingirem os 100% de acessibilidade em suas linhas são a Santa Maria, faltando a linha 103, e a Reunidas, faltando a linha 106.

Esses são casos aparentemente mais possíveis de serem resolvidos. Mas nenhum deles chegou ao nível de uma novela como o da Penha. Afinal deveria ser um problema simples por se tratar de linhas operadas justamente pela Transnacional, maior empresa de João Pessoa em frota e linhas. Mas ela preferiu passar todos esses anos tornando as coisas mais difíceis. Queremos acreditar que ela resolva isso agora.

A sinopse da novela

A Transnacional como maior empresa da cidade tinha tudo – e ainda tem – para completar 100% de acessibilidade em suas linhas regulares. O problema é a falta de vontade da empresa para resolver de uma vez por todas essa questão que é muito simples. Tratam-se das linhas 2307 e 3207, que atendem a área da Penha e ainda penam para ter veículos acessíveis. Desde o fim da linha 528 (Altiplano-Penha) da Marcos da Silva, a Transnacional opera absolutamente sozinha a área que fica no extremo oriental das Américas (e as duas linhas passam exatamente ali). Além da linha I007, a Marcos da Silva se faz presente com um único veículo da linha 507, mas nem assim ela colabora com a acessibilidade; dispõe para essa extensão um veículo ano 2007.

Em 2010, várias das linhas da Transnacional ganharam seus primeiros adaptados: 201, 209, 5310, 304, entre outras. Todo mundo ia recebendo os seus adaptados, novos ou usados – e em alguns casos eram os primeiros zeros das linhas. Menos as linhas da Penha. E assim se passaram três longos anos até chegarmos a 2013.

De 2010 à 2013, a empresa repassou às linhas vários carros com cinco anos de uso, mas a rotatividade só aconteceu em três das quatro vagas. O número de ordem 0753, um veículo ano 2004, permaneceu intocado esse tempo todo e simplesmente foi envelhecendo ali. Nenhuma linha da empresa tinha mais um veículo fixo do lote do carro 0753. Só o 2307.

Enquanto isso, entraram outros carros: 0724, 0726, 07131. Todos eles veículos entre 2005 e 2007 da configuração mais básica da empresa.

Foi a partir de 2009 que foram adotadas normas de acessibilidade nos ônibus urbanos; marcação de assentos para idosos, baláustres táteis e botões de parada em braille para portadores de deficiência visual, bancos para obesos, e plataformas elevatórias. Até mesmo carros usados do RJ de outras empresas do sistema vieram, mesmo fabricados antes de 2007 e sem elevador, com o mínimo dessas exigências, já que no RJ as empresas faziam essas adaptações. Mas nenhuma empresa de João Pessoa fez isso. E assim os quatro carros que atendiam a Penha rodaram sem o mínimo de exigências de acessibilidade. Para a empresa, aquela ainda era uma vila de pescadores com população reduzida. Disse bem, para a empresa.

Toda novela tem suas barrigas

Em 2012, a empresa ainda tinha tudo para substituir o intocado 0753. Mas comprou dois veículos com os números de ordem 0713 e 0724. 0724 era justamente o número de ordem de um dos veículos fixos do 2307 na ocasião.

Os carros foram direcionados às linhas 5206 e 601. A linha 601, que em 2008 cedeu o 0753 para a linha 2307, cedeu o carro 0747 (que vem a ser do mesmo ano) para substituir o 0724. O carro era exatamente parecido com os outros em configuração; baláustres azuis, 53 lugares iguais e não sinalizados, enfim, o básico do básico.

Em 2013, começou a renovação dos 44 carros da Unitrans, e mais uma vez a empresa forçou a barra: comprou um carro 0726. Chegou a colocar o carro na linha 3207 – aparentemente a novela terminaria ali. Só nas aparências. O carro saiu da linha um dia, voltou no domingo, saiu de novo, voltou outra vez e saiu de vez. Foi para a linha 5100-Circular, uma das linhas carro-chefes da empresa, que já tinha 7 veículos adaptados. Como alguns veículos já começaram a circular, esse número já subiu para 11 veículos.

Mais uma vez as linhas ficaram com as mãos abanando. Mas isso não queria dizer que a novela voltaria para o meio da história. Muito pelo contrário, a empresa resolveu mexer de novo nas linhas da Penha.

A empresa foi colocando novos veículos e com a escalação dos mesmos nas novas linhas, foi liberando adaptados e como não poderia deixar de ser, cometendo erros, alguns deles inacreditáveis e que nos fazem pensar se não são simplesmente erros, mas má vontade da empresa.

As linhas 1500 e 5100 já rodavam nesta semana com 4 veículos novos cada uma. As linhas liberaram por conta da substituição 4 veículos adaptados cada uma: 07135 foi para o 517, 07136 para o 2514. É costume da empresa repassar carros mais novos como esses para linhas como essas, que não tem muita demanda mas passam em locais muito movimentados, e onde adaptados são essenciais.

O fim da metade da novela – será dessa vez?

O terceiro carro liberado, o 0768 – veículo adaptado ano 2009 que pertencia ao 1500 – colocou aparentemente fim a parte da novela. Foi fixado no 2307 substituindo justamente o 0753, que parecia intocável até então, mas que já está na hora de sair até pelo descompasso com o resto da frota da empresa. Ficou segunda e terça na linha, até que na quarta o 0753 voltou, sendo ainda visto na quinta.

Mas o 0768 não era mais visto em linha nenhuma. Voltou sexta-feira, 24 de maio, para a linha 2307. E o mais inimaginável: trouxe como reserva o carro 0760 – ano 2010, substituindo o 0747 em regime de substituição provisória. Naquele momento a linha 2307 experimentava a condição surreal de ter 100% de sua frota adaptada para cadeirantes, uma vez que rodavam os dois adaptados nas duas vagas: 0760 e 0768. Mas o 0760 é titular do 514-Mangabeira, e deve voltar para lá. Com isso, retorna o carro 0747.

Na linha 3207, a empresa simplesmente não fez absolutamente nada. A vaga que até então o antigo 0726 ocupou estava aberta, sendo ocupada por vários reservas em regime de rodízio – nenhum deles adaptado. Até que a empresa finalmente fixou um veículo na vaga essa semana.

Só que esse ônibus não era adaptado. Era o carro 0740, ex-integrante do 5100, ano 2008. É um carro com configuração idêntica ao 0747.

Chega a ser inacreditável a atitude da Transnacional face à linha. Ela podia ter resolvido isso de uma vez por todas, mas não o fez porque não quis. Pelo contrário, conseguiu a proeza de repassar um veículo do lote de 2009 – o mesmo de onde procede o 0768 – à uma linha que além de não ter problemas com adaptados, não tinha a mínima necessidade nem urgência de ser remanejado para lá, uma vez que trata-se de uma carro-chefe da empresa. Estamos falando do carro 0715, que foi fixado – isso mesmo – na linha 510-Tambaú. Linha essa que tinha quatro adaptados, com esse, sobe para cinco. E ainda não recebeu nenhum carro do lote de 2013. Se você, leitor, queria uma prova de que a empresa teve oportunidade mas não a fez por má vontade, tá aí.

Mas nada pára por aí. O carro 07131, o segundo ocupante da linha 3207, ao que indica foi retirado da linha. Não é visto desde segunda-feira. E garanto que já tenha ouvido falar desse número de ordem em algum momento neste blog recentemente: trata-se do mesmo carro onde sexta-feira passada mostrei o teto com uma goteira.

Como – tentar – explicar a situação

A lei de acessibilidade e a norma brasileira 15570 determinaram regras para a adaptação dos ônibus urbanos, bem como desde então todo veículo sai de fábrica adaptado para portadores de necessidades especiais. A lei federal foi eficiente nesse quesito, mas as prefeituras municipais não. A daqui mesmo não determinou regra nenhuma para a distribuição dos carros de modo tal que todas as linhas tivessem pelo menos um. O que determina para onde os veículos vão são as conveniências particulares de cada empresa, afinal na maioria das empresas, carros novos sempre vão para aquelas linhas carro-chefe e em muito poucos casos outras linhas menos destacadas também recebem.

A Transnacional pode ainda ter a chance de resolver isso de uma vez por todas, agora que está prestes a ter quase 100 veículos adaptados. A principal via onde as linhas 2307 e 3207 passa é uma das que mais cresce na cidade. Lá estão sendo construídas várias obras importantes, a exemplo do Mangabeira Shopping. As áreas ao redor da Penha além do próprio bairro vão se valorizando constantemente. Isso reflete em demanda – já mostramos que ela cresceu – e em crescimento populacional. E a empresa além de manter por enquanto uma de suas linhas sem acessibilidade, ainda coloca em cada uma dois veículos.

Isto quer dizer que as linhas não irão ficar em segundo plano por muito tempo. Basta a empresa querer. E se quiser que comece por agora o que devia começar para ontem.

É a chance que ela tem de ser a terceira ou quarta a completar 100% de acessibilidade – ou passar vergonha em nome de uma mentalidade dos anos 1990.

E quando pedimos os adaptados para as linhas da Penha, pedimos no mínimo um para cada linha. A novela acabou até aqui para o 2307. Mas o 3207 ainda está esperando.

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2 Comentários
  • Breno Araújo disse:

    Um absurdo esse descaso da parte da TN com a Penha, vamos ver se a partir da entrega dos novos carros isso acabe.

    O 0753 mesmo demorou muito a sair, mesmo com varios reservas mais novos como 0719.

    A 510 realmente nao precisava do 15, e alias subiu para 6 adaptados, ja q tinha 5: 0704, 0759, 0789, 07108 e 07160. fora q a 500 ainda da apoio a ela.

  • Breno, sua opinião além de pertinente completa exatamente o raciocínio que o post propôs; O 510 não só era uma linha que não tinha necessidade de receber o veículo bem como é uma das que podia ter recebido carro novo – e certamente vai receber. É uma coisa realmente inexplicável da parte da empresa.

    E veremos se as coisas vão mudar principalmente para o 3207 a partir da quarta-feira. A parte no 2307 já está feita e o recado está dado: carro básico sem adaptação nenhuma está fora de moda – e de padrão.

    Que quero depois poder postar aqui que a novela acabou de vez; talvez uma das coisas mais esperadas pelos leitores deste blog.

    O recado já tá dado as outras empresas, porque quando finalizarmos a novela da Penha, tem mais linha na mira. E creio que já imaginem quais são.

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