O fim de semana foi de notícias sobre o Telegram, que precisou tomar um “sacode” da Justiça para se enquadrar em regras de conduta, que outras redes sociais e aplicativos de mensagem já aplicaram. Precisou quase ser bloqueado para se enquadrar nelas. No fim, o Telegram acordou, cumpriu as ordens estabelecidas e hoje, segunda-feira, está funcionando normalmente. Mas e aí, precisa bloquear, ou ameaçar bloquear, para fazer uma rede social ou um aplicativo de mensagem acordar?
O Telegram se baseia no princípio de plena liberdade, tanto que por causa disso o aplicativo e seu fundador, Pavel Durov, saíram da Rússia, onde o aplicativo foi criado e onde seu fundador é nascido. E isso já praticamente nem existe no país de origem. Hoje o Telegram é baseado em Dubai, para onde foram cartas e e-mails que só foram respondidos depois do “sacode”.
O problema não é o aplicativo. São alguns dos seus usuários, que vão encontrar outras ferramentas para continuar fazendo o que bem entendem se não podem fazer em um determinado lugar. A plataforma é só um mero detalhe. Se precisa bloquear um aplicativo, os usuários “foco do problema” vão para outro. Eles não se dispersam facilmente.
Alguns de seus usuários que se aproveitam dessa plena liberdade que o aplicativo dá para coisas erradas, desinformação, enfim, outras coisas. Até a própria liberdade tem limites justamente para que todos possam aproveitá-la. Afinal, o que não existe é uma liberdade que, na realidade, é o disfarce de uma prisão, que é isso que muitos pregam deturpando o sentido literal da palavra.
Essa foi por pouco, Telegram
Com o Telegram isso quase aconteceu da primeira vez. Com o WhatsApp, foram várias. Umas três, se não me falha a memória. A empresa precisou se adequar para que isso não se repetisse e tem se mostrado solícita aos requerimentos do TSE, que está preocupada com a influência das redes nas eleições, em especial do que vem dos aplicativos de mensagem. E isso fora outros problemas que eventualmente o aplicativo vá enfrentar.
Afinal, quando o WhatsApp tem problemas, como os que aconteceram no ano passado, o Telegram evidentemente se beneficia, afinal é concorrência, e é nessas horas que eles precisam provar que merecem a fidelidade dos usuários, o que não tem acontecido, para falar a verdade.
Por conta de alguns, todos precisam pagar?
Esse é o ônus de todo pedido de bloqueio: a interrupção dos serviços, que nunca é efetiva, porque quem quer burlar dá um jeito usando VPNs – que são mecanismos que permitem “simular” que os acessos vêm de outro país. No fim, quem paga é quem não usa desses mecanismos e utiliza os aplicativos para trabalho. O Telegram mesmo possui funcionalidades para canais que o WhatsApp mesmo não tem. O meu canal no aplicativo, por exemplo, é alimentado por feed através de um bot.
O WhatsApp, como bem disse, não me dá essa possibilidade de ter um bot trabalhando para mim. Não ainda. Quem tem paciência para colar links canal por canal para quem quer realmente receber aquele conteúdo? Aí, falta um pouco de visão por parte da Meta.
É lógico, ninguém quer enfrentar problemas por causa de seus usuários, e aí entram as responsabilidades das redes. Até a liberdade tem as suas regras, porque ninguém é livre para fazer o mal. E assim todos podem conviver em harmonia, cada um com as suas diferenças, porque nada é mais livre do que ser o que se é.
O que se precisa é encontrar mecanismos que cheguem a esse meio-termo, não privando os usuários que nada tem a ver com os problemas das plataformas. Tudo bem, problemas existem, mas eles estão aí para que se encontre uma solução, afinal, quando se bloqueia uma plataforma, não se pune só a rede social ou o aplicativo de mensagem. Se pune quem nele está também. E quem produz conteúdo de qualidade.