Você acredita que a cidade conta histórias através da sua arquitetura e do seu movimento?
Pergunta gerada pela inteligência artificial e respondida por mim
A cidade é um organismo vivo. Ela muda o tempo todo e ao mesmo tempo conserva um pouco das coisas que um dia a representaram. Alguma coisa precisa ser preservada para entender o que um dia nós já fomos, ou nossos pais, nossos avós, da memória que talvez a gente nem guarde direito, mas eu sou desses que entendo que a memória de um lugar está em cada palmo de seu território, mesmo que o lugar tenha surgido praticamente um dia desses. Sei, os lugares mudam, só ver como eu falei sobre minha rua, que era de barro, e o barro era a minha tela. Mas como tudo muda porque tem que mudar, eu acompanho a dinâmica ao longo do tempo.
Em uma certa época eu pintava e desenhava em telas e papel fachadas de casas históricas aleatórias. Não mirava numa casa em específico, desenhava as fachadas que vinham a minha cabeça, elaborava até umas fachadas mais complexas, as mais complexas possíveis. Várias dessas telas estão na minha casa até hoje, outras eu até queria trazer para o meu quarto, embora estejam no corredor como se fossem estar numa galeria para todo mundo que passar no corredor ver. Era o que eu adoraria ter visto em outras ocasiões quando eu pintei essas telas. Hoje é parte do trânsito da minha casa, vai saber qual deve ser a importância dessas obras ao longo dos anos.
Quando eu falo sobre a inspiração das ruas, pense nas fachadas. Elas são iguais as fachadas que você viu há 10 anos atrás? 20 anos? 30 anos? Até mesmo a fachada da sua casa, que muda para se adaptar a rua, para se adaptar a chuva. Casas de um andar que passaram a ter duas. Casas que passaram a ter telhado de alumínio. As necessidades das pessoas mudam, e as fachadas acompanham, fazendo com que os registros das ruas contem histórias, tendências, momentos daquilo que a gente viu, presenciou, sentiu a necessidade de mudar. E o que fica nas fotos e vídeos que a gente faz desses momentos, fica na memória.
A própria pavimentação da minha rua ajudou a acelerar essa mudança, que não é uma mudança que acontece da noite para o dia: é uma mudança em movimento, que acontece ao longo dos anos, acompanhando o momento. Se tem sido assim há 25 anos, quando pavimentaram a minha rua, imagine nas ruas onde a pavimentação chega agora. Imagine onde chega o asfalto numa rua que até então não era tão movimentada. A vibe do lugar muda conforme as coisas mudam. As pessoas acompanham. E cá estou eu, em uma rua onde os vizinhos que eu tenho são os mesmos do meu tempo de infância. Afinal de contas, as ruas mudam, as pessoas estão ali, e se elas não estão, estão os seus herdeiros.
As fachadas contam histórias. E por isso a gente presta atenção a elas, não no sentido de escutar, porque no sentido literal da palavra, fachadas não falam. Mas fachadas contam histórias nas paredes, em cada camada de tinta, em cada camada de cimento, numa cerâmica fixa que esconde o que aquela fachada um dia já foi, das fachadas históricas descaracterizadas pelas ferragens de uma marquise comercial, são tantas histórias que as fachadas contam, que além daquilo que se vê, existe também aquilo que está escondido, e que uma hora vai se revelar e mostrar a história que lá existe, provando que todo lugar tem uma memória para contar, mesmo que faltem palavras.
#SetePerguntas
O primeiro post do dia no Site Josivandro Avelar. Um tema por semana, com uma pergunta por dia sobre assuntos relacionados a arte, cidade e comunicação. Pergunte o que quiser, eu posso lhe responder.