A voz do que se vê

Quando você olha ao seu redor, para as ruas da sua cidade, você sente uma voz dizendo cada palavra que está na rua. Só de olhar, você está se comunicando e isso basta. O que está escrito nos muros, o que está escrito nos anúncios de propaganda, placas, fachadas, todos os lugares possíveis e imagináveis. O que você vê comunica no silêncio, porque se tem uma coisa que as ruas da cidade não são, são silenciosas. Mesmo na tranquilidade e mesmo no silêncio, elas comunicam. Mesmo no silêncio, as palavras ecoam. O que se vê tem voz. E é uma voz que só você ouve, dentro de você, e mais ninguém. Uma voz silenciosa, mas que faz barulho.

A comunicação visual pode ser tão poderosa como a verbal? Sim. E eu tenho todos os motivos para explicar o que é a voz do que se vê. Pois é na comunicação visual que você molda as palavras e transforma elas em várias vozes. É diante da voz do que se vê que a gente se transforma, que a gente se expressa, que a gente é o que quiser quando a nossa voz, aquela definição comum, não quer e não precisa dizer tudo, afinal, voz e fala são coisas que combinam e podem ser distintas ao mesmo tempo. A fala não está só na voz, a voz não está só na fala. Você pode falar de várias formas, igual o que eu estou fazendo escrevendo este texto.

Talvez eu queira dizer muito, talvez não queira dizer nada, talvez o que eu queira expressar não se defina apenas por palavras. Uma figura já basta, uma flor que eu desenhe no caderno já é o bastante, uma xícara de café que eu posto toda segunda-feira na série de artes digitais não diz apenas que a segunda-feira é o meu Dia do Café, mas diz sobre o estado de espírito de começar uma semana de uma forma tranquila depois da agitação de um fim de semana movimentado, onde a gente vive a euforia da folga, e precisa da calma para recomeçar uma semana de trabalho intensa, no que eu simbolizo não com palavras, mas com uma xícara de café.

E eu vou representando a minha rotina pelas cores que eu vejo ao meu redor. É a arte que me define, e me permite que eu me comunique de forma visual, não apenas com o desenho, mas também pelas formas que eu quero me comunicar com vocês, pelas palavras de todos os dias nos textos do site, pelas artes e comunicação visual das redes sociais, pelos vídeos que eu gravo semanalmente para o Luneta Sonora. por uma crônica, por uma notícia, pelo que o que a minha imaginação e o movimento que acontece lá fora me pedem. A voz do que se vê ecoa de todos os cantos e de todas as formas para comunicar uma ideia, um pensamento, um mundo.

O eco está em todos os cantos. O eco pode ser silencioso. Ninguém pode te silenciar, ninguém pode se silenciar, ninguém pode silenciar as ruas, porque elas estão falando o tempo todo, em várias formas. É só ver uma rua movimentada com o eco de várias vozes que fazem parte dela. Porque quando as ruas falam, elas não precisam necessariamente dizer com uma voz que literalmente pode se ouvir. Porque o silêncio também ecoa, a voz não é somente aquela que se ouve. A voz é uma forma de expressão que tem várias formas. Um texto escrito fala. Uma mensagem no muro fala. Uma rua inteira fala. A cidade fala. E tendo voz, ela é um organismo vivo.