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Além do que se vê

Nem todo mundo vê, mas a arte está por toda parte, entre muros, calçadas e esquinas.

As ruas são muito mais do que caminhos entre um ponto e outro. Elas são o palco silencioso onde a vida acontece — onde histórias cruzam olhares, muros ganham voz e o cotidiano se transforma em arte. Muita gente passa apressada, vendo apenas casas, calçadas, fachadas. Mas quem desacelera e observa percebe que as ruas têm uma alma própria, feita de cores, sons, grafites e gestos que contam sobre quem somos e sobre o que deixamos pelo caminho.

A arte que nasce nas ruas não precisa de moldura nem de galeria. Ela vive nos muros descascados, nos desenhos que o tempo faz nas paredes, nas sombras projetadas por uma árvore ao entardecer. Está nos detalhes que passam despercebidos por quem só atravessa a cidade, mas é um mundo inteiro para quem aprende a olhar. É o que transforma o comum em extraordinário, o concreto em poesia.

Cresci observando as ruas da minha cidade com esse olhar. Vi nelas um museu a céu aberto, onde cada esquina tem uma história e cada detalhe é uma forma de expressão. Às vezes, é um cartaz rasgado que vira textura; outras, uma janela colorida que parece sorrir. A arte urbana, a fotografia espontânea, a comunicação visual das ruas — tudo se mistura e cria um cenário que muda o tempo todo, como se a cidade respirasse.

Mas ver além do que se vê exige tempo e curiosidade. É preciso enxergar a beleza no que é imperfeito, na tinta que escorre, na parede manchada, no letreiro antigo. É nesse olhar que mora o verdadeiro sentido de viver a cidade — não apenas passar por ela, mas fazer parte dela. Quando olhamos com mais atenção, percebemos que a arte urbana é também um diálogo: entre quem cria e quem caminha, entre o instante e a permanência.

Talvez seja isso o que eu mais aprendi nas ruas de João Pessoa: que a cidade é uma grande obra coletiva. Cada traço, cada cor, cada sinal é parte de uma história viva. E quando registro isso — com fotos, com textos, com desenhos — estou apenas continuando essa conversa. Porque viver a cidade é enxergar o invisível, é encontrar arte onde muitos só veem rotina. E é ali, no meio das ruas, que a inspiração segue pulsando, transformando cada passo em criação.

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