Tem gente demais querendo criar conteúdo. Mas será que tem gente para receber a mensagem que você quer transmitir? Para começar o #ContentTalks de hoje, quero começar com a premissa básica da comunicação da existência de um emissor e de um receptor de uma mensagem. Pelo menos é isso que a gente aprende em comunicação: quais são os seus elementos e que a gente pode ser os dois ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo, sabe que ser emissor de uma mensagem é uma responsabilidade enorme, tanto para quem divulga um fato quanto para quem transmite uma mensagem publicitária. Diante dessa premissa básica, eu lhe pergunto: qual é o propósito da sua mensagem?
Vamos começar por um exemplo básico: o Instagram. No Brasil, a rede social tem mais de 135 milhões de usuários – o que não quer dizer, é claro, que cada indivíduo tenha uma conta, ele pode criar várias. Desses, 10,5 milhões se definem como criadores de conteúdo, o que coloca o Brasil como líder mundial em número de influenciadores nessa plataforma. E não, não são só pessoas físicas que participam desse universo de criação de conteúdo. Isso também inclui as empresas, que estão usando criação de conteúdo no amplo sentido da palavra. E ter muito emissor para pouco receptor evidencia bem como estamos usando as redes sociais.
Essa proporção traz de certa forma uma desigualdade, ou falando em um português mais claro para todo mundo entender: saturação. O ambiente de redes sociais está claramente saturado. Afinal, quem chegou primeiro e domina bem o negócio já saiu na frente, e o que sobra para quem chega? Quem chega já chega inspirado em quem chegou primeiro, mas o caminho para transformar a criação de conteúdo em fonte de renda é muito, mas muito longo. Não é todo mundo que vai sobreviver só disso. E mais do que isso: é necessário buscar por atenção em um ambiente onde mais gente está disposta a falar do que a ouvir.
Esta é a primeira vez que o #ContentTalks traz dados robustos para entender melhor o universo das coisas que se quer dizer – eu sempre quis fazer isso, só não sabia como, e eu contei com a inteligência artificial para fazer uma pesquisa ampla sobre essa percepção que eu tenho para o que eu acredito ser muito emissor para pouco receptor. Para isso, solicitei um relatório que foi transformado em um infográfico – em breve eu disponibilizo esse relatório com detalhes amplos para vocês. Mas antes, eu quero mostrar os principais resultados que eu obtive nessa pesquisa ampla sobre a grande disparidade digital, sobre o paradoxo que eu evidenciei da economia criativa.
Muitos dados juntados depois, quero trazer um panorama mais claro sobre o que eu quero dizer e porque é importante entender por que o começo não é fácil para muita gente que está iniciando essa jornada sem ter ideia do que vai encontrar, afinal, se existem mais criadores do que pessoas para receber esse conteúdo, é um indício evidente de saturação desse meio e isso é um desafio enorme para quem tem o objetivo de criar conteúdo sem nem saber que conteúdo quer transmitir e se esse conteúdo tem propósito. Afinal de contas, ter propósito é mais importante do que apenas postar, e eu mostro isso com dados, para refletir melhor sobre o mercado de economia criativa.
A Grande Disparidade Digital
Por que na era da informação, ter propósito é mais importante que apenas postar.
1. O Paradoxo da Creator Economy: Uma Oferta Massiva
O número de criadores de conteúdo cresce exponencialmente, mas a profissionalização e o sucesso financeiro são para poucos. O mercado está cada vez mais saturado.
Uma estimativa que revela a base massiva de produtores de conteúdo no país.
Crescimento no número de criadores profissionais entre Mar/24 e Mar/25.
A grande maioria não consegue ter a criação de conteúdo como principal fonte de renda.
O Funil da Creator Economy: A Base de Seguidores
A grande maioria dos criadores possui uma base pequena de seguidores, o que evidencia a dificuldade em construir uma audiência relevante em um ambiente saturado.
2. A Batalha pela Atenção: O Recurso Mais Escasso
Apesar do alto tempo de tela, a atenção do usuário é fragmentada e está diminuindo drasticamente, tornando a competição por foco mais acirrada do que nunca.
Queda Drástica no Tempo de Atenção
Em menos de 20 anos, o tempo médio que um usuário consegue manter o foco em uma tela despencou. A sobrecarga de informação é a principal causa.
Apesar do longo tempo conectado, a atenção é dividida entre inúmeras atividades e plataformas, não sendo um indicador de consumo de conteúdo focado.
Onde o tempo é gasto?
📱 WhatsApp & Redes Sociais
🛒 74% buscam produtos/serviços
👍 54% são influenciados por marcas que seguem
3. Consequências: A Realidade Financeira
A saturação do mercado se reflete diretamente na distribuição de renda. Apenas uma pequena elite consegue ganhos substanciais, enquanto a maioria compete por uma fatia mínima.
Distribuição de Renda Mensal dos Criadores no Brasil
Metade dos criadores ganha até R$ 5.000 por mês, e menos de 1% atinge rendas acima de R$ 100.000, mostrando a brutal realidade financeira do setor.
4. O Futuro é o Propósito
Em um mar de conteúdo, a sobrevivência e o sucesso dependem da profissionalização, autenticidade e da construção de comunidades engajadas.
Hiperprofissionalização
Dominar storytelling, marketing, análise de dados e gestão de comunidade não é mais um diferencial, é uma necessidade.
Autenticidade e UGC
92% dos consumidores confiam mais em conteúdo gerado por outros usuários (UGC) do que em publicidade tradicional.
Foco em Nicho
Construir comunidades engajadas em nichos específicos é mais valioso do que buscar grandes audiências genéricas.
O maior reflexo da saturação desse meio está justamente no motivo pelo qual muita gente entra nessa: a grana. Metade dos criadores ganha R$ 5.000,00 por mês, e menos de 1% dos criadores atinge rendas acima de R$ 100.000,00. Em outras palavras, não é todo mundo que sobrevive só disso e não é todo mundo que vai conseguir sobreviver em um meio onde não é sempre que o brasileiro está focado em uma coisa só nas 9 horas e 13 minutos de tempo médio online. Somos focados em um monte de coisas e em nenhuma ao mesmo tempo. E chamar atenção nesse meio é para aqueles que são muito craques no que fazem.
Tem umas coisas que vale a pena não só estudar, mas entender. E aqui entra todo o domínio de marketing, storytelling, análise de dados e por aí vai. Além disso, é necessário também entender para quem você está criando, ou seja, criar uma noção de comunidade. Por isso, uma das estratégias mais básicas da criação de conteúdo, se assim posso dizer, é focar em nichos, em públicos que você sente que existe carência de comunicação e conteúdo. Que precisam de uma voz para ser ouvida. Daquelas pessoas que vão confiar em você, não para menos a audiência confia mais no conteúdo gerado por outros usuários do que na publicidade tradicional.
E existe um termo para isso, para definir um criador de conteúdo que não necessariamente é um influenciador digital, porque faz isso praticamente de forma natural. É o criador UGC. Para quem não sabe o que é UGC, significa User Generated Content ou, em português, Conteúdo Gerado pelo Usuário. Ou no melhor sentido da palavra, significa aquele conteúdo que é criado pelo usuário comum, que já nem se define como influenciador digital, ou nem mesmo tem essa intenção de assim se definir. Ele se entende como parte da audiência, e não um catalisador dela. São esses os criadores de conteúdo que as marcas estão procurando, justamente porque são o consumidor que elas buscam.
Criar conteúdo, qualquer um pode criar. Mas criar conteúdo com propósito é para quem pode, para quem consegue, e para quem estuda. Em um ambiente onde a gente quer ser tudo ao mesmo tempo, chamar atenção sem colocar uma melancia no pescoço é um elemento que deixou de ser simples para ser uma fórmula matemática onde quem consegue chegar lá acertou essa fórmula com precisão. É verdade que todos nós queremos criar. É verdade que todos nós queremos ler. É por isso que, antes da gente ser emissor, a gente é receptor, e a gente precisa entender o propósito da mensagem antes de transmiti-la com eficiência.