Os partidos para além das pessoas

O que mais você ouve nas propagandas eleitorais são aqueles candidatos que pedem uma oportunidade de governar a cidade porque nunca o fizeram antes. Mas se você prestar atenção nas letras miúdas, vai encontrar os partidos da coligação. Um determinado candidato até pode nunca ter sido eleito para um cargo e sempre vai se lançar como uma novidade, mas por trás é apoiado por partidos políticos que já estiveram no poder em uma determinada cidade. Algumas pessoas até sabem, mas por estratégia, e para fingir que é uma coisa nova sem aqueles partidos políticos tradicionais por trás, essas legendas são sempre escondidas, e as letras miúdas da obrigatoriedade escondem isso muito bem.

Tem partido político que sempre se disfarça de coisa nova, mas representa as mesmas famílias e mesmos políticos de sempre. Tem partido político que nunca se responsabiliza pelos problemas da cidade que governou, e apoia discursos contra os problemas que eles mesmos criaram lá atrás. Nem sempre é sobre as pessoas, e sim sobre essas agremiações, as quais são necessárias e obrigatórias nesse universo democrático que em tese deveria se reinventar da mesma maneira que as próprias cidades se reinventam, mas tem partidos que não querem largar o osso e fazem de tudo para estarem ali, como uma sombra, como um instrumento.

Vejo alguns candidatos mais novos do que eu – e alguns 10, 15 anos mais novos do que eu! – que nunca se candidataram, que dizem representar a renovação política, mas estão candidatos por legendas que passam longe de representar essa renovação a não ser a própria perpetuação dela. Fato é que para uma pessoa se candidatar, é necessário se filiar a um partido político, mas alguns discursos não combinam com o partido onde elas estão. Afinal, como bem disse, existem problemas, mas nunca se assume esses problemas quando eram pessoas de um determinado partido que lá estavam e apoiavam. Precisamos mesmo falar sobre isso, não é?

Por conta disso, na escolha de um candidato em qualquer eleição, e baseado no conhecimento prévio e memória de longo prazo que eu sempre tenho, eu faço as minhas escolhas para além das pessoas, porque não são pessoas que você escolhe para governar uma cidade, um estado, um país. Eu enxergo para além das pessoas justamente por causa disso: porque elas não representam somente a si mesmas, e sim a projetos de poder que ora hoje estão, ora já estiveram. E alguns já estiveram 8, 10 anos seguidos e pareciam não largar o osso, e tratam o fato de estarem do outro lado como saudade de estarem ali, mais do que necessariamente o papel de fiscalizar.

Falta um pouco disso: observar as coisas de uma forma coletiva, observar quem está por trás da pessoa que você escolheu para te representar. Ela pode representar uma família que está há anos na política, ou um partido político que abriga essas famílias e que já governou o local onde você mora por anos, e hoje finge que representa modernidade justamente para retornar. Para mim, esses são cavalos de Troia: parece uma coisa ótima para quem vê, mas escondem surpresas. Eu sempre vou fazer as minhas escolhas com precisão cirúrgica, em nome do que eu desejo para a minha comunidade, mesmo sabendo que as escolhas são o conjunto de um coletivo. É desse modo que a gente precisa observar, os partidos para além das pessoas.