O quadro de cacos de vidro

O quadro de cacos de vidro foi tema de pelo menos uns dois posts neste site. Mas não tem problema se for tema de um terceiro, afinal, o que falta de registro desse quadro, sobra de relato. Foi a principal obra do desfile cívico de 2023, que tratou sobre reciclagem, e precisou de duas placas de isopor grosso e três garrafas de vidro. Até hoje, esse foi o maior desafio que eu já fiz em termos de arte, pelo material que foi empregado, pela mão de obra que foi necessária e pelo fato de que tudo deu certo apesar de ser uma obra que envolve vidro, afinal, o primeiro temor que você tem é de se cortar. E nada disso aconteceu: a obra entrou para a história, apesar de hoje ela não mais existir.

Foi necessário um saco plástico para quebrar as três garrafas em vários pedacinhos e em total segurança. O mais incrível de tudo isso é que do processo de criação da arte até o próprio desfile, passando pelo transporte de casa para a escola, ninguém se cortou. Toda a peça foi feita em total segurança, transportada em total segurança, conduzida no desfile em total segurança. Esse era um desafio enorme e deu certo. Mas não daria certo sem que eu precisasse de pessoas para me ajudar nessa parada. Para criar a obra, precisei da ajuda do meu irmão até pelos motivos óbvios de segurança. Para transportar a obra de casa até a escola, precisei da ajuda de um colega meu.

Como eu disse anteriormente, não existem até aqui registros fotográficos existentes do quadro de vidro, e por isso, toda vez que eu falar desse quadro, eu sempre vou ficar devendo, ficando as histórias para serem contadas sobre esse quadro. Se esses registros chegaram a existir, até hoje não chegaram até mim. Mas em 2009, eu reproduzi para o primeiro post no meu então blog sobre essa obra o desenho que eu fiz usando cacos de vidro. A parte azul era pintada com tinta, os pombinhos feitos com cacos de vidro de garrafas de cor verde, e o coração com cacos de vidro de uma garrafa de cor âmbar, tudo colado com cola de isopor. O desenho era esse:

O quadro de cacos de vidro foi uma das únicas obras que eu fiz com a qual eu não desfilei nas mãos, e nem seria se assim fosse. Desfilei com uma muda de pau-brasil que à essa altura já deve ter virado uma árvore em algum lugar da cidade. As outras obras que eu fiz que também não conduzi foram um ônibus de papelão e uma casa com palitos de picolé inacabada, que foram conduzidas por outros alunos. As três obras no mesmo desfile. Quem ficou com a missão de desfilar com o quadro no desfile cívico do bairro foram duas alunas da escola que estudavam em uma outra classe, que desfilaram pela extensão de 1,13 km com aquele negócio que não era tão leve, não era pesado, mas que pelo menos foi bem reforçado justamente para não se partir no meio.

Altos aplausos pela extensão da avenida. Depois do desfile, as obras que eu fiz ficaram na escola, e não se sabe o que aconteceu com aquele quadro de cacos de vidro. De qualquer maneira, até hoje essa foi a minha maior ousadia artística. Será que um dia eu irei coisas parecidas com essa outras vezes? Nem precisam ser quadros com cacos de vidro, nem precisa ser em um desfile cívico. Só preciso de mais uma ousadia artística como essa. É sobre deixar sua marca no mundo, e aquele desfile cívico de 2003 foi o primeiro onde eu pude me apresentar para as pessoas me conhecerem e deixar as minhas marcas.