Eu participei de quatro desfiles de 7 de setembro, mas nunca desfilei em um 7 de setembro. Todos os desfiles que eu participei foram do bairro onde eu moro, coisa que nem acontece mais, já que tem uns tempos que os desfiles do Cristo e Rangel pararam de acontecer. Mas aconteciam há bem pouco tempo. As lembranças das minhas marchas no asfalto estão todas descritas em detalhes aqui no site, afinal, o #MinhaCidade de 7 de setembro não poderia ser falando de outra coisa.
Eu sempre tinha algo a contribuir para a escola onde eu estudava, que nunca me colocava de coadjuvante nos desfiles. A direção da escola embarcava legal nas minhas ideias. Teve quem não acreditasse? Teve. Mas teve que ver ao vivo para acreditar.
Como bem expliquei acima, não dá para dizer que eu participei de desfiles de 7 de setembro porque desfiles de bairro nunca são no dia 7 de setembro, dia dedicado ao desfile principal na Duarte da Silveira, no Centro – e esse eu nunca participei, só vi quatro vezes.
No longínquo ano de 2009, eu fiz uma série de quatro posts onde eu contava as minhas experiências nos desfiles de 7 de setembro do Rangel com os recursos que eu tinha na época, no tempo que eu editava o então Blog Josivandro Avelar na unha e sem imagens. Todos eles estão linkados no decorrer deste texto.
E o melhor: eu vou trazer registros inéditos desses relatos, para mostrar que o que eu conto, é porque eu lembro. E agora que temos recursos para contar melhor as histórias, mesmo aquelas do passado, são essas histórias que eu quero reforçar por aqui.
Arte em cacos de vidro
No meu primeiro ano de desfile no Santa Ângela – a escola municipal onde eu fiz da então 5ª a 8ª série (hoje corresponde do 6º ao 9º ano) no bairro do Cristo Redentor -, já veio com desafio de cara: fiz um monte de coisas para exibição com o tema de reciclagem, mas o ponto alto seria o quadro de vidro, que nada mais eram do que blocos de isopor grossos colados um ao outro, com uma figura feita em mosaico de vidro, ou seja, era necessário quebrar garrafas.
Foram necessárias pelo menos três garrafas de vidro que foram quebradas dentro de sacos plásticos, e coladas no isopor formando a figura abaixo. Ninguém ficou ferido durante a concepção da arte, muito menos os meninos que carregaram aquele pesado quadro no percurso do desfile – eu carreguei um ônibus de papelão.
É o único desfile que eu não tenho – isso se ninguém tiver – registro fotográfico.
Navegando pelo asfalto revolto
A escola ora me propunha algumas coisas, ora eu mesmo propunha, e eles embarcavam no que muita gente poderia dizer que seria loucura.
Em 2004, eu desfilei com um barco de isopor que eu mesmo construí, em referência ao iatismo, que conquistara duas das então quatro medalhas de ouro da olimpíada daquele ano (viraram cinco no ano seguinte depois de um caso de doping no hipismo). Tudo o que eu pedi, a escola me deu, afinal eu mesmo propus o desafio, e bem, eu desfilei com o barco.
Se era para reproduzir um barco a vela, ele fez direitinho o seu papel. Fez até demais, até ele se desmontar no percurso do desfile.
Como em 2009 não tinha uma coisa chamada câmera de celular, eu reproduzi o barco usando um desenho. Esse desenho aqui embaixo, feito no Paint.
Mas se você ainda não acredita, a tecnologia evoluiu após 14 anos e sim, eu tenho uma foto desse momento, tirada por um fotógrafo encarregado de registrar o desfile na época, e cá está ela.
O ápice: a maquete da Lagoa
Mas em 2005 viria o ápice. Propuseram um desafio maior para mim e eu fui lá e fiz, no único dos quatro desfiles que não foi na 2 de Fevereiro, e sim na Dom Bosco. E esse ápice foi a maquete monumental do Parque Solon de Lucena, o Parque da Lagoa, quando ainda era rodeada por asfalto, numa referência aos 420 anos que a capital paraibana completava naquele ano. Se era para esquecer o mico do ano anterior, que fosse com algo que quem visse não esqueceria.
A maquete levou uma semana para ficar pronta. Ficou dois anos encostada até ser desmontada e transformada em outra maquete para um trabalho de geografia no meu colégio seguinte, o Lyceu Paraibano, e ela foi de ônibus para lá, viajando no espaço de cadeirante do veículo, que eu sabia o horário que ia passar (só tinha um único ônibus com esse espaço rodando no bairro todo). E lá ficou até ser apresentada, e posteriormente, descartada.
Feita para representar o mais icônico ponto de referência do Centro de João Pessoa, foi exatamente a menos de 50 metros de lá que ela se foi.
E sim, existe uma única foto dessa maquete.
“Sei que você vai sair esse ano, mas desfile sem você não é desfile”
Foi com essas palavras que a diretora da escola pediu que eu fizesse o que bem entendesse no último desfile que iria participar, afinal, como a escola só iria até a oitava série (hoje nono ano), e eu teria que trocar de escola de qualquer maneira para cursar o Ensino Médio, eu queria me despedir da maneira que eu entendia bem: fazendo alguma arte.
A maquete era a reprodução da então lateral da escola e da então quadra (hoje essas partes foram modificadas e cobertas), com bonecos representando alunos de diferentes raças e necessidades especiais. Com direito a aplausos das autoridades municipais que estavam no palanque montado na frente do antigo Balaio (onde hoje fica uma unidade das Lojas Americanas).
Eu pensei que eu não tivesse nenhum registro dessa maquete. Mas tinha.
Na época do post, eu contei que estava concluindo o terceiro ano do Ensino Médio e que iria atrás do objetivo de cursar Comunicação Social, no que eu consegui no ano seguinte (e terminei há 10 anos).
E desde então…
Como esperado, eu saí do Santa Ângela em 2006, migrando para o Lyceu em 2007, ficando até 2009. Nesse meio tempo o site nasceu, ainda com o título de blog, de uma maneira bem simplória e com o que eu podia, com o objetivo de registrar as histórias de alguém que queria ser um comunicador, e bem, conseguiu.
Há algum tempo os desfiles deixaram de acontecer no Cristo e no Rangel. O que ficam são as lembranças das marchas no asfalto, de quem um dia tentou de certo modo impressionar com alguma coisa, e da sua maneira. E bem, eu acho que eu consegui, e nem sei se ainda existem pessoas que lembram desses momentos. Mas eu documentei tudo por aqui.