O relato que você vai ler a seguir foi feito por mim na semana passada como uma atividade da disciplina História da Comunicação. A atividade consistia em acompanhar um evento esportivo em duas mídias: uma parte na televisão, uma parte no rádio, para que sejam acompanhadas as diferenças de linguagem e comunicação entre as duas mídias. O meu relato teve seis páginas e já foi entregue. E gostaria de compartilhar a atividade com vocês.
A missão parece meio impossível dado o tempo que não vejo um jogo de futebol digamos, inteiro, os 90 minutos. Mas vamos lá, desafio é desafio. E o meu foi assistir ao primeiro tempo de um jogo de futebol na televisão, e ouvir o segundo tempo via rádio, com a condição de não ver o que está acontecendo na televisão. Enfim, viajar na imaginação e procurar ao mesmo tempo fazer o papel tanto do telespectador quanto do ouvinte do rádio.
O relato a seguir foi feito durante um jogo do Campeonato Brasileiro, o qual não sabia qual era o que a televisão iria transmitir (não quis saber até pela surpresa e pela sensação de que esse trabalho seria imprevisível). O jogo tem a sua importância. Valia a liderança do campeonato. Pelo visto as emoções dos torcedores seriam mais fortes principalmente em se tratando de um jogo onde o líder do campeonato enfrentava o vice.
Acompanhe o relato a seguir e relembremos o jogo que certamente muita gente deve ter visto no dia 12 de agosto de 2012. Não vimos nem ouvimos o jogo com os mesmos olhos e ouvidos de um torcedor comum, e sim com os olhos e ouvidos, vamos dizer assim, de um analista. Perdoem-me o fato do texto ser longo, mas procurei descrever o jogo com a riqueza de detalhes possível.
O jogo: Atlético-MG X Vasco (válido pela 16ª rodada do Campeonato Brasileiro).
As mídias: TV Globo e Rádio Globo-BH
Missão: Compor o exercício de História da Comunicação passado na terça-feira acompanhando um jogo de futebol em uma mídia cada tempo; o primeiro tempo pelo televisão, o segundo pelo rádio. Escolhemos o jogo aleatoriamente a partir do que a televisão ia passar no domingo, 12 de agosto.
Primeiro tempo: televisão é bem mais do que somente som e imagem
O jogo acontece na Arena Independência, em Belo Horizonte (mando de campo do Atlético-MG). O estádio saiu de uma reforma recente que o deixou com a aparência de uma arena europeia (e eu achando que nunca ia falar isso sobre um estádio brasileiro, e olha que ainda teremos vários assim até a Copa de 2014). Exibem o jogo a TV Globo e a TV Bandeirantes (em sinal aberto), jogo esse que é exibido em ambas as redes a partir do Rio de Janeiro. Enquanto isso, a praça (área de abrangência de uma emissora de TV) de São Paulo assiste outro jogo.
O jogo na televisão permite-lhe mostrar na escalação quem é que vai jogar, bem como a imagem dos mesmos e a posição onde eles vão atuar em campo. Assim, logo os torcedores do sofá terão a noção do esquema tático dos times. A própria expressão dos técnicos dos clubes também aparece ali através das entrevistas dos repórteres. Imagine a sensação de estar com a responsabilidade de 11 jogadores. Ganhar ou perder pode até ser culpa dos jogadores, mas a responsabilidade sempre acaba recaindo no técnico (né, Mano?).
O juiz aponta um minuto de silêncio (homenagem a um ex-dirigente da CBF bem como do Vasco da Gama). Silêncio absoluto no campo. É possível ver que a torcida já começa a cantar e vibrar. O interessante do jogo como bem ressaltou o locutor é que ele vale a liderança do campeonato.
No jogo da televisão (usamos aqui a transmissão da TV Globo), o locutor não descreve o jogo de uma forma rápida, ou seja, é possível coordenar o que está acontecendo com o que o locutor está falando. Em alguns momentos há pausas. E o locutor descreve que um dos jogadores do Vasco da Gama irá participar de um amistoso da tão desleixada (como o meu visual antes do meu cabelo ser cortado) Seleção Brasileira.
Parece fácil ser locutor de um jogo de futebol. Diferente do rádio (vocês verão esta descrição a seguir), você sabe quem é quem a partir do momento em que a bola está no pé dos jogadores. É possível dar outros detalhes do jogo a partir do momento em que as câmeras se encarregam de mostrar detalhes adicionais. Como diz aquele ditado, uma imagem vale mais do que mil palavras; a parte da descrição do jogo já fica mais com o rádio. A televisão descreve as imagens por elas mesmas.
Outra coisa que a televisão permite é acompanhar os lances mais, digamos, polêmicos. A falta que o juiz cobrou, será que foi falta mesmo? Tudo mostrado em inúmeros ângulos de câmeras posicionados ao redor da Arena Independência.
E o mais interessante de se ver por conta da própria carreira: a presença das marcas. Nas placas de publicidade que demarcam o espaço do jogo e dos repórteres de rádio; dos panos que ficam na linha de fundo ao lado dos gols que passam a impressão de tridimensionalidade. Nos uniformes dos jogadores até o uniforme da arbitragem; em tudo ali estão marcas. Brahma, Quartzolit, CNA, Itaú, SKY, Sadia, entre tantas outras. Tudo devidamente bem posicionado para ser captado pelas câmeras, na mais perfeita tradução do que é chamado product placement. Pode comparar com os jogos da série C ou D.
A televisão começa a anunciar a escalação reserva dos clubes. Informação importante para conhecer logo de cara os jogadores que o técnico tem á disposição para assumirem o lugar de no mínimo três jogadores que ele deve substituir. O técnico costuma substituir jogadores no segundo tempo. Pode fazer isso no primeiro tempo se quiser (só se o time estiver jogando muito, mas muito mal, o que não é o caso deste jogo).
No momento, os comentaristas podem usar os replays das tantas câmeras da transmissão (as quais não sei precisar número, mas são bem mais de dez) para comentar o lance que acontece no momento. E numa dessas…
…Um dos jogadores do Vasco da Gama divide a bola com o jogador adversário. A torcida do Atlético-MG pede pênalti, já que tal lance foi dentro da área. A transmissão num determinado momento da partida volta às imagens para mais uma vez permitir a intervenção dos comentaristas. Foi ou não foi pênalti? O juiz mandou seguir. Tem certas coisas que as câmeras enxergam que o juiz não consegue enxergar… É, acontece.
O jogo já vai a mais da metade do primeiro tempo. Daqui a 15 minutos acaba e eu concluo a minha impressão sobre a transmissão de TV. As informações passadas até aqui são bem descritivas e complementam a imagem que estão no ar. Afora isso, o que os times têm perdido de gols não é brincadeira. O jogo ainda está zero a zero. Estamos nos aproximando dos 40 minutos e passei de 800 palavras.
A própria televisão tem a vantagem de acompanhar os outros jogos que acontecem na rodada e emitir um sinal para o gol que acontece nos jogos, como foi agora neste instante onde a Ponte Preta abre o placar sobre o Internacional (digitei Guarani, não sei de onde tirei esse Guarani, agora me lembro que o Guarani está na série B). Agora saiu outro gol, jogo do São Paulo contra o Grêmio.
Saiu um gol no jogo que estou assistindo. Gol do Atlético Mineiro.
Ops, alarme falso… A bandeirinha subiu. Era impedimento. E a televisão permite saber porque foi (e foi mesmo, estava na cara!!!). E ainda dá os recursos de tira-teima para criar linhas imaginárias, quilometragem do chute, distância até o gol, essas coisas que a televisão coloca num instante. Futebol também é uma verdadeira aula de física.
E mais outro impedimento do Atlético Mineiro… O juiz dá dois minutos de acréscimo. O jogo vai até os quarenta e sete minutos. Instante em que Ronaldinho Gaucho reclama da arbitragem do jogo (reflexo dos impedimentos do time dele). Sai um gol do Coritiba em cima do Corinthians naquele instante.
E fim de primeiro tempo. Atlético-MG 0 X 0 Vasco. Os repórteres entram em campo dessa vez entrevistando os jogadores sobre as suas impressões do jogo dentro de campo. Os créditos mostram os chutes que eles deram, a participação deles no jogo, informações individuais sobre o desempenho deles em campo.
Vamos desligar a televisão e partir para a segunda parte do exercício.
É hora do Show do Intervalo.
Continua no próximo post.