Adivinhando o que o algoritmo quer

O algoritmo não te dá dica. Quem o programa quer uma coisa, mas na verdade ele nunca sabe o que quer. A gente que produz conteúdo tem praticamente que adivinhar o que o algoritmo espera de nós. Como eu já disse outra vez, tudo o que a gente produz se determina em fórmulas dos mecanismos de pesquisa, das redes sociais, para entregar um conteúdo com eficiência. Sou desses que não se preocupa somente com o que eu produzo, na certeza de que eu confio naquilo que eu faço, por entender que um trabalho autoral, diferente do que costuma ser visto, não deveria ser tão difícil de entregar. Mas quem disse que tudo seria fácil para um criador independente?

Eu não falo isso só por mim, mas por todos os criadores independentes em geral, que criam conteúdo original, fazem coisas incríveis, mas nunca são encontrados pelo público que querem alcançar, e isso não por culpa deles, mas por culpa de quem deveria entregar e deveria distribuir, que determina as coisas pelos algoritmos. Como eu disse em outra ocasião, me seguir em uma rede social não é uma garantia que você vai receber o conteúdo, porque o que o algoritmo te entrega nunca é o conteúdo de quem você segue, transformando o número de seguidores nisso mesmo: em mero número. Poucas pessoas entre todas que me seguem recebem realmente o que eu produzo. A culpa é minha?

São os mesmos algoritmos que magicamente operam para que grandes produtoras de conteúdo e os chamados influenciadores tenham sucesso naquilo que fazem, enquanto os criadores independentes fazem todos os tipos de esforços possíveis para fazer as coisas acontecerem, e nunca serem retribuídos da maneira que merecem por parte de quem distribui, de quem entrega, de quem joga nos mecanismos de busca. Falo muito de como o offline faz toda a diferença no online, e talvez tivesse sorte se investisse em offline para trazer as pessoas para cá, porque o esforço online por mais que seja enorme, muitas vezes cansa e muitas vezes desanima.

As mesmas empresas que criam algoritmos e pedem que você crie “conteúdo de valor”, são as mesmas que obliteram os conteúdos de produtores independentes em torno de estratégias offline, aquisição de direitos de transmissão de mídia online e outras coisas que mostram que para essas empresas, você não se esforçou o suficiente. Mas são elas que comandam tudo. São elas que mandam naquilo que as pessoas leem, ouvem e veem. E lembram do “conteúdo de valor” que eu coloquei entre aspas? Que conteúdo de valor esperam de mim se o que eu faço é o que é da minha identidade? Isso já não basta? O que as pessoas procuram não necessariamente é conteúdo de valor propriamente dito, mas conteúdo que reflete a identidade de quem está criando.

Eu não sei o que o algoritmo quer, e eu continuo tentando adivinhar. E como eu tento responder essas perguntas, num eterno jogo de adivinhação onde eu consigo errar perguntas que nunca me fizeram, estudar para provas que nunca me aplicaram, fazer receitas que não estão em um livro onde está escrito o modo de fazer? Porque tudo é tão difícil para os criadores independentes? A gente que tá nessa batalha já sabia que não seria fácil, o que a gente talvez jamais imaginasse é que seria uma eterna prova de desafios que a gente precisa adivinhar quais são para superá-los, num voo cego e sem mapa para quem não tem os mesmos recursos de quem consegue desvendar esses mistérios do algoritmo.

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