Todo início de ano é a mesma coisa: a passagem de ônibus aumenta em João Pessoa e na região metropolitana. No último aumento aplicado, a passagem de ônibus municipal passou de R$ 3,55 para R$ 3,95 – com desconto de quinze centavos para quem usar o cartão eletrônico. Ok, a passagem aumentou e… Cadê as melhorias?
Nenhum ônibus zero quilômetro foi adquirido neste ano na Grande João Pessoa. As trocas de frota tem sido feitas só com ônibus usados de outras cidades, alguns próximos de estourar a idade média. A alegação das empresas para justificar a falta de investimentos é sempre a mesma: estão com dificuldade para fechar as contas diante da crise, por causa da queda do número de passageiros.
E porque o número de passageiros cai? Porque a passagem está cara e quando acontece um aumento, as melhorias nunca aparecem. O passageiro não quer pagar caro por um serviço que não corresponde a aquilo que ele espera. Se não tem melhoria, a fuga é certa. As empresas esperam efetividade na regulamentação do transporte por aplicativo ou do combate ao clandestino, mas não correspondem fazendo o possível para reconquistar o passageiro. Se continua do jeito que está, ele tende a não voltar.
O resultado desse comodismo é visível: a capital paraibana, antes um exemplo de renovação de frota, está sendo passada para trás por várias cidades em termos de renovação e melhorias. Fortaleza, Teresina e São Luís, por exemplo, já tem um grande número de ônibus com ar condicionado e renovações constantes. E sofrem da mesma concorrência. Qual é o problema daqui?
Não adianta nenhuma ação contra a concorrência se as empresas oferecerem as mesmas condições para que o passageiro volte a andar de ônibus como antes. Em qualquer segmento de mercado é assim: quem se mexe movimenta e fideliza, quem fica acomodado vê o trem passar. É assim com um meio, mesmo ele sendo concedido, como o transporte coletivo. É só ver como outras cidades lidam com isso.
Então, já viu os ônibus verde marca-texto de São Luís? Os verde abacate de Teresina? Ou os ônibus de Fortaleza? Até mesmo os de Recife? Uber e 99 tem em todo lugar. Nessas cidades também. E por mais que as empresas dessas cidades sintam, elas estão se mexendo. Alternativo em carro velho até deve ter lá – os aplicativos não admitem carros acima de sete anos de fabricação. Mas será que o passageiro deixaria de andar num ônibus climatizado para andar num carro de passeio 1998 sem vidros?
O passageiro se sente desconfortável, quer o mínimo de conforto e segurança e quer benefícios proporcionais ao que ele paga de passagem. Aliás, dá um Google e pesquise os preços das passagens dessas cidades que eu mencionei. São todas mais baratas que as de João Pessoa.
Num mercado dinâmico como o de hoje, o passageiro está conectado, mais crítico e mais exigente, e as empresas precisam ficar atentas ao que ele quer e espera, como na questão do ar condicionado, que deveria ser um item obrigatório – e portanto não fora da realidade como as empresas alegam. Hoje em dia nem o carro de passeio mais pé-de-boi do mercado brasileiro sai de fábrica sem ar condicionado.
A saída é simples: sair do comodismo. O passageiro só vai se sentir reconquistado se ele sentir que não vai pegar o mesmo ônibus lotado de todos os dias que as vezes nem chega na hora, depois de um dia cansativo de trabalho. Passageiro é cliente, e o cliente tem sempre razão.