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A porta está sempre aberta

A porta está sempre aberta para quem quiser entrar e ficar em João Pessoa. Porque por mim, ela jamais irá se fechar.

Ontem foram divulgados os resultados do Censo de 2022 do IBGE, que nós aqui em casa respondemos. Os 4 moradores da minha casa (contando eu) são 833.932 que moram em João Pessoa, que por sua vez são 3.974.495 que moram na Paraíba, que no fim são 203.062.512 que moram no Brasil. Sim, a capital paraibana agregou 110.417 habitantes a mais, sendo a capital nordestina onde esse crescimento foi maior. Desde que eu nasci vivo numa cidade grande, afinal capital de estado atrai pessoas, a porta está sempre aberta para quem quiser chegar. E de uns tempos para cá, muitas chegaram.

Algumas pessoas escolheram viver aqui na capital paraibana por acharem a cidade mais calma do que as grandes metrópoles, embora eu não concorde nem um pouco com isso por causa das minhas vivências, idas e vindas de escola em faculdade e de faculdade para casa. Sempre tive – e até hoje tenho – uma vida muito agitada. É que várias pessoas que nasceram aqui há muito tempo têm de certo modo uma mentalidade mais provinciana, e você até sente que muita coisa não vai para frente por conta disso. Elas são poucas, mas fazem barulho. Mas é aquilo, muita gente tem uma percepção diferente da minha.

E é natural que quanto mais pessoas cheguem, os problemas de estrutura fiquem mais evidentes, como nas questões de trânsito e preocupação com a instalação de moradias em áreas que não tenham restrições ambientais, afinal, sempre se vendeu uma imagem de cidade verde e sustentável e é preciso manter essa imagem, só ver que eu moro num lugar próximo de uma reserva de mata encravada no coração da cidade. Talvez por viver desde que nasci no Varjão, ou Rangel, como queiram chamar, que eu não tenha notado isso mesmo que o bairro seja um bairro de João Pessoa. Afinal, a cidade ainda continua crescendo de uma forma desigual.

Mas como não se surpreender com as pessoas que nascem aqui e fazem até troça com essa onda migratória, supostamente “não recomendando” a cidade para que outras pessoas morem? Pois eu vi isso ontem nas redes sociais e fiquei muito chateado. Aliás, só reforçou uma queixa que eu tenho de várias pessoas aqui da cidade, que aliás, mal a conhecem mesmo tendo nascido aqui. Eu tenho um pouco de restrições com algumas pessoas da capital – e eu falo isso sendo um pessoense nativo – por conta disso. Somos mesmo um povo acolhedor e se sim, com quem?

São justamente os “nativos” que mais discriminaram o meu bairro. Quem não é da João Pessoa e chegou aqui de uns tempos para cá nem deve fazer ideia disso. E talvez vá enxergar o meu bairro como mais organizado do que muitos bairros de grandes metrópoles. Eu me lembro muito bem do dia que eu fiz uma bronca coletiva numa notícia de um Instagram de um repórter policial, quando ocorreu um assalto numa loja aqui do Rangel. Em vez de se atentarem ao fato, os usuários discriminavam o bairro. Gente de João Pessoa.

Assalto, violência, homicídio acontece em todo lugar. E ninguém tem bola de cristal para adivinhar onde isso tudo vai acontecer para se dizer que existe falta de segurança, afinal, não chegamos ainda à realidade de “Minority Report“. Em uma cidade grande, isso acontece e não tem segurança que dê jeito, daí a importância de se reforçar as rondas policiais e manter a confiança na Polícia com os recursos que ela tem. Mas na imprensa policial, sempre se usam as notícias desses crimes como reforço de preconceito contra determinados bairros da cidade, principalmente nas redes sociais, ambientes esses que terminam por reforçar os preconceitos de determinadas pessoas, como se a violência fosse mais aguda em determinados lugares e não existisse em outros.

E é aquilo: será que realmente conhecemos João Pessoa, ou só o lado turístico, mais bonito dela?

É notório que o turismo é uma das fontes de renda da capital paraibana e sempre vai se exaltar essas qualidades. Mas muitas vezes você não tem muitas oportunidades. Eu já sabia que não iria encontrar elas no mercado publicitário quando eu me formei nessa carreira. E nem queria mesmo, afinal você iria trabalhar com pessoas completamente diferentes de você, mesmo que tenham nascido na mesma cidade que você (mas não sabem onde você mora).

E eu abri uma porta quando senti que as portas do mercado tradicional já estariam fechadas para mim.

Eu ainda acredito na cidade que eu nasci, mesmo que muitas vezes eu tenha vontade de colocar uma mochila nas costas e ir embora. Só não sou um nômade digital por não ter dinheiro para isso, e porque eu sou muito apegado à minha mesa, ao meu lugar e a tudo aquilo que me inspira. O que me inspira está nas paisagens por onde eu caminho todos os dias. Talvez nem tanto nas pessoas. Algumas são legais, outras ignorantes demais.

Mas se você me lê e me compreende, sabe que uma das pessoas que eu menciono neste texto não é você. Você acredita como eu que é possível construir um lugar melhor, venha de onde você vier. Uns ignorantes não definem todas as pessoas. Não constroem nada. Nem devem saber o que é senso de comunidade, e se eu sou uma pessoa um pouco restrita com pessoas, é por certos tipos de pessoas.

Eu até escrevi um texto no rascunho sobre não ser uma ilha, não se isolar, e se abrir para o mundo e se necessário for, adaptar-se a ele e cobrar a quem for necessário cobrar. Mas era do meu bairro para a cidade. Hoje não quero falar apenas como bairro, mas falo como um pessoense que precisa estar se comunicando com o mundo como parte do trabalho que eu exerço diariamente, que transcende as fronteiras de João Pessoa. E sabe da importância da comunicação e do relacionamento com as pessoas de diferentes origens.

E as queixas de discriminação são compreensíveis, diante de uma construção de imagem pejorativa sobre o Nordeste ao longo dos tempos. Mas não podemos nos igualar a quem nos discrimina, nem generalizar pessoas pelo lugar onde vivem. E não digo isso apenas sobre a impressão que os moradores do Sul e do Sudeste tem do Nordeste, mas também vale pela impressão que os próprios moradores de João Pessoa têm não apenas do Rangel, mas também dos bairros populares das zonas Sul e Oeste. Quantos talentos e quantas ideias incríveis não estão se desenvolvendo no Rangel, no Cristo, no Geisel, no Valentina, Gramame, Alto do Mateus, Bairro das Indústrias?

É pelo que eu faço que jamais vou fechar uma porta. E sintam-se acolhidos independentemente de onde vierem. Se somos um povo acolhedor, precisamos demonstrar isso diariamente. Afinal, a “capital de todos os paraibanos” é e precisa ser a capital de todos que nasceram e escolheram viver aqui.

A porta está sempre aberta. E por mim, jamais irei fechar.

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