Em mais uma matéria histórica sobre promessas furadas da mobilidade urbana pessoense, a história de hoje deveria passar nos trilhos do bonde. Deveria.
Em 1990, a Prefeitura de João Pessoa conseguiu a aprovação de um projeto que previa a instalação de um sistema de bondes modernos na cidade – que na realidade seria um VLT, tal como o que está sendo construído no centro do Rio de Janeiro – no que poderia ser uma experiência pioneira na América do Sul. O projeto teria contado com o apoio decisivo do então ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega. Cada bonde levaria 300 passageiros e a primeira linha ligaria o Centro ao Valentina passando pela Pedro II e Mangabeira. O projeto foi inspirado em ideias semelhantes no Leste Europeu.
O projeto previa que o sistema seria integrado aos ônibus, com a previsão de construção de três terminais de integração; um na área central, um nas proximidades da UFPB, e um em Mangabeira. A frota que sobraria da implantação do sistema de bondes seria usada em outros bairros, como Bairro das Indústrias, Ilha do Bispo, Alto do Mateus e Praia da Penha.
Em 1991, a Prefeitura de João Pessoa anunciou os vencedores da concorrência pública para implantação do sistema de bondes elétricos na cidade. A proposta vencedora foi de um consórcio formado pela construtora brasileira OAS e as tchecas Škoda Export e CKD-AS.
Segue uma nota publicada em jornal de 1991:
Para o bem de todos os habitantes da Capital e satisfação daqueles que utilizam o transporte coletivo urbano no trabalho e no lazer, o sistema vai ficar muito melhor.
Hoje, às 17 horas, na Prefeitura Municipal, o prefeito Carlos Mangueira assina contrato com os representantes da firma brasileira OAS e com as empresas ESKODA EXPORT (sic) e CKD-AS da Tchecoslováquia.
Estas empresas vencedoras da concorrência pública serão, em consórcio, responsáveis pela implantação desta marcante obra em João Pessoa.
Não é preciso fazer voltar o tempo para ver o BONDE sobre os trilhos em plena atividade. Nas diversas linhas de tráfego este tipo de transporte coletivo é o mais rápido, seguro e confortável sobretudo o de custos mais barato.
Sendo um meio de transporte mais simples e resistente o BONDE, que é movido à energia elétrica, vai pressionar as tarifas para baixo beneficiando inicialmente as linhas Centro-Mangabeira-Centro numa extensão de 11 Kms atendendo a 100 mil passageiros por dia.
A partir de agora, mais do que nunca, vai valer a competência da STP, o esforço da administração municipal e a seriedade da aplicação de uma verba de 16 bilhões de cruzeiros (valor em 30/10/90) nesta primeira etapa, com a implantação do sistema que tem 24 meses para mostrar que já tem BONDE na linha.
Apesar da nota acima falar da seriedade em aplicar uma verba de 16 bilhões de cruzeiros na primeira etapa nos primeiros 24 meses do projeto, a cidade nunca viu o bonde passar. O projeto sequer saiu do papel.
Em 2004, o candidato a prefeito Avenzoar Arruda chegou a propor se eleito fosse, o que não aconteceu, iria construir um metrô de superfície – seguindo essa lógica do bonde – um metrô de superfície ligando o Centro a Zona Sul da capital.
A história do bonde em letras maiúsculas se junta ao dos trólebus e a dos ônibus a gás como mais uma das promessas furadas da mobilidade urbana pessoense. Catando nos arquivos, certamente encontraremos outras e outras.
Esta matéria escrita por mim foi originalmente publicada no Ônibus Paraibanos em 30 de abril de 2016. No próximo post eu quero continuar o assunto – sigam-me os bons!