Eu poderia escrever sobre a chuva, é verdade, mas será mesmo que eu vi a chuva? Só sei de uma coisa: hoje choveu. E ainda bem. O calor estava tão intenso nesses últimos dias que em algum momento, a chuva poderia cair e dar uma amenizada nesse tempo tão quente. Talvez hoje eu possa ter um sono mais tranquilo, se bem que nem me lembro mais da última vez em que eu tive insônia.
Diante de todas as horas em que eu consigo dormir, se tem uma hora que eu consigo dormir é a hora em que o Sol nasce. E quando chove, chove em todo começo de manhã. Deve ser por isso que hoje eu não vi a chuva cair, como eu quase nunca vejo as chuvas que caem a essa hora, e sempre me passa a impressão de que nunca está chovendo.
A chuva sempre parece tão tímida, e só se revela quando poucos estão acordados ou muitos estão realmente acordando. Mas choveu, e quando choveu, eu dormi. Chuva de início de manhã é uma coisa que eu não consigo ver justamente por que eu estou dormindo. E eu acordo tarde. E eu nunca consigo perceber quando a chuva está caindo em todo começo de manhã.
Mas hoje, chove a qualquer hora. Como chove no momento em que eu escrevo esta crônica. Chove como se o calor dos últimos dias não estivesse existido, mas ele existiu, e por isso nesse momento chove. Como eu tenho saudade de escrever sobre a chuva em uma noite de domingo. Para isso, basta viver um dia de chuva em uma noite de domingo. E hoje, eu consegui.
Se hoje eu posso não ter visto a chuva, será que eu verei a chuva amanhã? Aliás, eu já estou vendo a chuva que talvez eu nem precise ver, só precise realmente sentir. Afinal, no momento que eu termino esta crônica de domingo, está chovendo. Eu vi a chuva da noite, como eu vejo a chuva da noite. Mas talvez me falte ver outras chuvas. Ou ao menos sentir.