Fator ansiedade-tempo

De certa forma, sim. Porque eu nem entendo o motivo de comemorar. Eu sei que essas são coisas da vida em sociedade, mas que para mim talvez não façam tanto sentido assim em termos de entender melhor o sentido de viver a vida que se quer viver, de viver onde você está e se as coisas fazem sentido da maneira como elas são. Você quer mudar sua vida, você quer mudar aspectos da sua vida, você não quer viver a mesma vida nem andar para trás e fazer as mesmas coisas manjadas de sempre. É o fator ansiedade-tempo, onde você se preocupa de certa forma com o avanço do tempo e se pergunta: será que está valendo a pena? Será que vale a pena viver assim? E no que eu posso mudar?

É lógico que eu faço várias perguntas, arrumo as ideias, e faço um texto enorme para dividir em cinco parágrafos como um modo de organizar tudo isso. Porque é uma coisa muito louca, poderia dizer que vocês não fazem ideia disso, mas não: vocês de certa forma devem sentir o mesmo que eu quando ficam um ano mais velhos. Será que eu realmente me sinto jovem aos 36 anos? Ou será que eu me sinto mais velho por estar a quatro anos dos 40? É basicamente sobre isso. É basicamente o quanto a nossa vida passa num instante e você não consegue aproveitar, você não consegue acompanhar, você não consegue entrar no ritmo porque as coisas acontecem muito rápido e a velocidade do tempo é implacável.

Você muitas vezes fica frustrado por entender que nem sempre a vida é do jeito que você quer e do jeito que você planejou. E sempre se pergunta onde foi que você errou, porque as pessoas esperam demais de você e você nem sempre pode corresponder a aquilo que elas esperam de você. E nem precisa disso, na verdade, porque para cada um, a vida corre em um ritmo e uma velocidade diferentes. Nem sempre as pessoas entendem, mas é isso que explica muitas coisas que aconteceram comigo e outras tantas que sequer aconteceram, quando deveriam acontecer. E é muito louco. Vocês, que estão na casa dos 30 e poucos anos, me entendem.

O fator ansiedade-tempo é sobre isso. O tempo passa, como você reage? O tempo passa, o que você perdeu? O tempo passa, o que está acontecendo que nada parece acontecer? Eu posso utilizar as analogias mais psicodélicas do mundo para definir tudo isso. Porque é sobre as coisas que passam, as oportunidades que você perde, os sonhos que você não consegue realizar. Enquanto isso, o tempo passa. E no ano que vem, eu vou ter 37 anos. E como eu bem disse, logo eu vou estar na casa dos 40 anos. Sem sentir nem muito menos estar dentro de um clube com pessoas de 40 anos. Mas eu estou perto dessa idade. E o tempo é implacável.

E é a vida, são coisas da vida. O que eu quero é viver cada dia intensamente, sem me importar tanto assim com o tempo. Só que vivemos em sociedade, e tem certas coisas que não podem ser simplesmente ignoradas. Eu não gosto muito de comemorar o meu aniversário por conta dessas coisas, embora eu lembre disso nos meus textos o tempo todo porque é algo que todos nós sempre teremos: a data de nascimento, a data em que a nossa história começou, e quanto tempo essa história começou. E eu quero guardar esses momentos que fazem parte de mim, para os momentos que eu quero construir lá na frente, mesmo que eu precise enfrentar o fator ansiedade-tempo, o que sempre é inevitável, porque é da vida. E nós vivemos.