E aquele tempo chuvoso?

Houve um tempo que o inverno era a estação mais chuvosa do ano na região de João Pessoa. Parecia ser uma regra. Hoje em dia, o inverno chega e você mal espera que chova, porque tudo o que precisava chover no inverno, choveu no outono. Tudo o que precisava alagar, também. E se for revisitar as épocas, os mesmos lugares que alagavam nos invernos pessoenses de outrora, alagam nos outonos de hoje. Essa é uma regra que não muda, o que muda é o prefeito para ser xingado a cada vez que uma chuvarada acontece e os mesmos lugares inundam. Mas sabe como é, a gente continua tendo a mania de enxergar soluções em quem ajuda a criar os problemas.

Mas era assim o inverno que eu me recordo de infância: dia sim, dia também, era chuva constante, aquela chuva que nem traz raios direito. Até parece um exagero para quem não nota quando isso acontece, mas foi assim. Afinal de contas, quando a gente define uma estação chuvosa, nem sempre ela bate com o inverno de fato, entre junho e setembro. Quando chega próximo do fim do inverno, nem parece inverno. O título de “estação do frio” é um mero detalhe para quem acredita que a chuva é como se fosse a neve dos subtrópicos e do inverno do Hemisfério Norte como estamos acostumados a ouvir os relatos.

A chuva geralmente trazia aquele clima mais frio dentro do que a gente chama de clima ameno. Trazia a vontade de se cobrir a qualquer hora do dia e de andar com alguns agasalhos quando fosse necessário. Mas a gente tinha que se proteger para além dos agasalhos, com um guarda-chuva que mal dava para de fato se proteger da chuva. Sim, aqueles guarda-chuvas de camelô, que eram – e ainda são – as únicas opções que se tem para se proteger da chuva. Aqueles maiores de cor preta são mais resistentes. Aqueles com estampa de flores e outras coisas são tão frágeis que numa chuva de vento se desmancham.

Mas esse tempo passou? De uns tempos para cá é o que eu tenho notado. Não tem chovido tanto naquilo que a gente convenciona a chamar de inverno. E quando chove, é mais no outono. Mas vira e mexe chove um pouquinho aqui e ali, e a gente vai se acostumando com esses novos tempos de mudanças climáticas que influem até mesmo na chuva que cai sobre as nossas cabeças. No fim das contas, a gente não sabe quando é que vai chover, e vê a chuva cair sem uma época determinada. Eu tenho uma arte digital de chuva guardada na fila para quando chover nos próximos meses, feita justamente numa dessas chuvas do primeiro semestre.

A gente vai seguindo o ritmo da chuva, sem saber quando ela vai cair direito. Mas vai cair, afinal, quando se está perto de água, se sabe que a água cai em algum lugar e nos lava, lava a alma, lava o que precisa ser lavado, ameniza o clima e ajuda em muita coisa, mesmo que em alguns momentos atrapalhe quando se está em uma cidade que não é preparada para chuvas há séculos. É nesse ritmo da chuva que a gente vai acompanhando que entende que em algum momento, a chuva faz um pouco de falta. E se em algum momento a chuva tiver que cair, que ela seja mais do que bem-vinda para ajudar nesse clima mais ameno.

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