O corredor da 2 de Fevereiro é atendido por 75 veículos distribuídos por 17 linhas. Dessas 17 linhas, 10 atendem ao bairro de Mangabeira e concentram 50% dos veículos. As sete restantes concentram os outros 25 veículos e a maior taxa de demoras.
Dos sete corredores de ônibus da cidade, é onde as linhas são maldistribuídas. Onde para ir de ônibus a uma universidade federal que fica a menos de 2 km do bairro do Cristo, você atravessa um corredor inteiro e mais um pouco, andando cinco vezes mais que isso, e como no meu caso, que estudo na Estrada de Cabedelo (8 km de casa), ter que enfrentar uma outra linha sujeito a perder a integração temporal dada a fama da demora, enquanto mal conseguem desenvolver um sistema integrado para Mangabeira, onde as linhas do 2 nem são as mais usadas (a linha mais usada de Mangabeira, no corredor da Josefa Taveira, é a linha 301).
E na área do Mercado Público passam todos os 50 veículos que atendem Mangabeira. Para ir a outros destinos na mesma rua, só rodam apenas 20 carros:
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202-Geisel, que atende exclusivamente ao conjunto de mesmo nome;
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204-Cristo, que atende a parte mais para dentro do bairro;
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5204-Cristo/Manaíra Shopping, que além de atender a área do 204, é a responsável por atender a área das praias.
Essas linhas possuem 8, 6 e 6 carros, respectivamente.
Para quem vai a outras áreas da Zona Sul, precisa ir até a São Judas Tadeu, onde utiliza as linhas:
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201-Ceasa, que vai até o Jardim São Paulo, Anatólia (Bancários) e Unipê;
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2501 e 5201, que vão até o bairro Colinas do Sul.
Juntas, essas linhas possuem 4, 4 e 4, total de 12 carros. A linha 208 trafega na Bartira e utiliza apenas três veículos.
Já as outras 10 linhas restantes tem como destino ou passagem o maior bairro da cidade, Mangabeira.
O sistema criado para o bairro de Mangabeira conseguiu a proeza de no bairro concentrar todas as dez linhas numa única parte do corredor, não distribuindo para outras partes como no caso do 208 e do 201. Em alguns casos, algumas linhas repetem itinerário, e outras nem deveriam passar ali, caso do 2307 e 3207, que quando saem da Penha, trafegam pela Josefa Taveira, coisa que não fazem quando retornam para o destino. Logo, quem vai da Penha para Mangabeira consegue ir, mas não consegue voltar.
Se houvesse necessidade desse número grande de veículos e de linhas, porque ele não é distribuído por igual em todas as partes do bairro, e tem que ficar concentrado em uma única parte dele?
Vamos a alguns casos que explicam melhor o que quis dizer, caracterizado como sobreposição de itinerários de linhas – que tem de diferente os terminais, e mesmo que o bairro de Mangabeira tenha 3 entradas, só duas dessas 10 linhas entram por outra rua que não seja a Josefa Taveira. Como essas duas linhas são de um conjunto de circulares (2515/5210), por bem dizer é uma só. Para chegar a Mangabeira VII, enquanto um veículo da linha 302 faz isso diretamente, os das linhas 203 e 209 precisam passar primeiro na Josefa Taveira – isso desestimula os passageiros de Mangabeira VII a usar essas linhas como opção a 302. Por consequência, esta vai ficar sobrecarregada.
A linha 209 utiliza o corredor da Josefa Taveira ao invés da Hilton Souto Maior sentido Secretaria da Segurança-Detran, onde passam todas as outras linhas do setor Mangabeira VIII (302, 514, 5603). Isso porque lá já trafega a linha 203, que em parte utiliza o mesmo itinerário, e trafegam na maioria das vezes juntas. Inevitavelmente das duas, alguém vai bater pneu (anda vazio sem pegar passageiro pelo fato de que ninguém sinalizou parada).
As linhas do Cristo/Epitácio são divididas em dois pares: 2515/5210 e 2514/5206. O que elas tem de diferente uma da outra é a parte de Mangabeira onde trafegam. Aí elas conseguem obter êxito. Mas ao chegarem no Cristo, passam na mesma rua e na maioria das vezes, chegam juntos. Enquanto um vai com lotação considerável, outro passa direto, já que ninguém solicitou parada.
E é porque não foi pensado um sistema integrado dentro do bairro de Mangabeira. É mais fácil ir a 2 de Fevereiro do que a própria principal, onde não há linhas alimentadoras interligando as vias principais do maior bairro da cidade (em Mangabeira há três artérias, o 203 chega a duas mas ainda assim, sobreposta ao 209). No mês passado, foi acrescentado mais um veículo na linha 209-Cidade Verde. Ao invés de melhorar o itinerário da linha tanto para os moradores de Mangabeira VIII quanto para os do Rangel, preferiram fazer mais um carro bater pneu ali, inevitavelmente produzindo choque de horário com o 203.
Em outros destinos, como da Zona Norte e Oeste (Cruz das Armas, Mandacaru, Funcionários, Bairro das Indústrias), que possuem linhas para outros corredores, para quem está na 2 de Fevereiro, o jeito é ir ao Terminal de Integração ou confiar na Integração Temporal (rezando para que o carro chegue logo e você não pague outra passagem).
Para o Valentina só há a opção dos 2300 e 3200. Dessas, só o 2300 entra no TIP do Valentina, possibilitando integração com outras áreas do bairro (e para isso você tem que rodar – e muito!). O 2501/5201 tem como ponto final um terminal de integração (integrando com 103, 113, 114, 116), mas não alcança outras áreas do Cristo/Rangel.
Em Mangabeira, o sistema não favorece
Se aqui o problema é a superconcentração de veículos que vão na maioria das vezes em um destino, vamos analisar o lado do bairro de Mangabeira. Lá podemos encontrar um fator interessante: o transporte do maior bairro da cidade não é interligado. Um exemplo claro disso é a falta de conexão entre os corredores viários do bairro de Mangabeira (Mangabeira VII, Josefa Taveira e Mangabeira por Dentro). Cada uma tem suas linhas, terminais separados. As linhas 209, 3507 e 5307 já consegue fazer melhor isso trafegando nos corredores de Mangabeira VII e Josefa Taveira. Para o corredor 2 há aqui este problema: a interligação direta para o Cidade Verde que é efetuada pelas linhas 302, 514 e 5603 não é feita pelo 209, que passa na Josefa Taveira. E lá o 203 já passa. Deixaram uma parte descoberta para colocar dois cobertores no mesmo lado. Quem quer ir a Mangabeira VII partindo da Epitácio e da Pedro II consegue fazer isso diretamente, já via corredor 2 o negócio é um pouco mais burocrático, já que as duas linhas além de passar na mesma rua, ainda entram pelo outro lado do corredor.
No maior bairro da cidade não há nem esboço de integração. E isso porque estamos falando de um bairro com dimensões de cidade como Mangabeira, onde a maioria das pessoas resolve todos os seus problemas, e faz as suas compras lá mesmo, dado que o centro comercial do bairro é bem desenvolvido, é fácil se locomover para fora do bairro, mas difícil é se locomover dentro dele de ônibus. Não é possível, por exemplo, a um morador de Mangabeira por Dentro, ir ao hospital Ortotrauma (que fica em Mangabeira VII) de ônibus. Ou anda quilômetros, ou anda de ônibus fazendo um itinerário extenso só para sair de uma parte do bairro para ir em outro. Traduzindo, para voltar para Mangabeira por Dentro, tem que sair do próprio bairro de Mangabeira.
Potencial para isso há. Só falta vontade.
Sensação de proximidade pela mobilidade – que nem sempre é real
Mas aqui ninguém toca nesse vespeiro por uma razão simples: as pessoas se deixaram levar pela falsa sensação de que, pelo fato de a comunidade é atendida por muitos veículos, estamos bem servidos de transporte. Só fazem ideia da burocracia do serviço quando não precisam ir aos destinos atendidos pela maioria das linhas. Nem todo mundo no bairro do Rangel ou do Cristo tem alguma necessidade a ser resolvida em Mangabeira, se bem que o bairro já é praticamente um segundo centro. Mas fica na mesma distância do próprio Centro da cidade. Em uma ponta, o Centro fica a 4 km daqui. Em outra, Mangabeira tem a mesma distância. A sobreposição da mobilidade dá essa falsa sensação de proximidade. Enquanto isso, o Funcionários, Costa e Silva, ficam a metros, ou mesmo 1 km daqui.
E achamos que fica longe. Longe sim, dos itinerários dos ônibus que atendem ao Rangel.
A distância se mede pelos quilômetros físicos, e não pelos quilômetros que os ônibus andam. Eles só atravessam outros bairros para chegar até um lugar que fica praticamente ao seu lado. E que há gente que um dia vá precisar chegar lá.
A quantidade de ônibus que atendem o Cristo/Rangel não está aliada a qualidade do serviço, nem tão pouco a uma ampla variedade de destinos que permitem uma mobilidade urbana considerável dentro do bairro. Afinal, não adianta 50 veículos rodarem aqui, se todos eles descrevem os mesmos percursos na maioria de seus itinerários. É a característica fundamental da sobreposição de linhas. Aqui consentida, já que todas elas são operadas por uma única empresa de ônibus.
E ao visto, ninguém leva muito isso em conta. O que se propõe é uma reflexão e uma reorganização desse sistema que não favorece nem a quem deveria ser teoricamente favorecido.
Certamente em algum lugar do país há algum caso parecido com esse. Explicamos melhor sobre esse caso do corredor 2, tão mais próximo de nós, para exemplificar melhor o que uma má organização pode refletir na mobilidade urbana de uma cidade.
A mobilidade como direito deve favorecer a todos e ser melhor distribuída para atender a todos, independente dos interesses. Ao contrário, a palavra “mobilidade” perde completamente seu sentido.
O que foi feito para ser simples não deveria ser uma coisa tão burocrática. Ou chamaríamos isso de “arrodeio urbano” ao invés de “mobilidade urbana”.